A despoluição do rio Pinheiros, na capital paulista, que engloba saneamento, desassoreamento, retirada de resíduos sólidos e construção de estações de tratamento, deve chegar ao resultado prometido até o fim do ano. É o que garantem a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo e a Sabesp.
Despoluir é o primeiro passo para a consolidação do projeto Novo Pinheiros, promessa do governador João Doria (PSDB). A ideia é revitalizar os arredores do rio, com parque, lojas e até um cinema. O investimento total previsto é de R$ 3,5 bilhões.
De acordo com Benedito Braga, presidente da Sabesp, a iniciativa atual é eficiente porque ataca as causas da poluição, e não apenas retira o lixo do curso do rio.
"Já conectamos 516,1 mil imóveis dos arredores de córregos que desembocam no Pinheiros à rede de esgoto. Isso é 97% da meta", afirma.
Como o modelo de concessão do serviço remunera as empresas baseando-se nos resultados, ele diz ainda que é possível que, ao fim do ano, a meta seja superada em 10%, já que há um mecanismo no contrato que permite essa possibilidade.
"Aí seriam cerca de 600 mil casas conectadas. Se a gente considerar quatro pessoas por imóvel, é uma cidade grande", afirma Braga.
Há, todavia, lugares onde não é possível conectar as moradias à rede de esgoto. Por isso, o projeto inclui a construção de cinco estações locais de tratamento, que coletam a água de córregos adjacentes ao Pinheiros, tratam-na e devolvem-na ao curso d'água.
Há também o desassoreamento. Até dezembro de 2021, foram removidos 603,6 mil m³ de sedimentos. A ação é importante porque aumenta a profundidade do rio. Num trecho, perto da Cidade Universitária, o Pinheiros tinha 80 cm de profundidade, diz Braga.
Ainda falta retirar cerca de outros 600 mil m³ de sedimentos. Se o desassoreamento der certo, afirma Braga, deve ser possível navegar no Pinheiros no futuro.
Junto com isso, há a retirada de resíduos sólidos da superfície. Já foram removidas 55 mil toneladas. Com as medidas, a meta é que, até o fim do ano, a água do rio tenha um DBO (demanda bioquímica de oxigênio, métrica para medir o nível de poluição das águas) inferior a 30 mg por litro.
Na última medição, o resultado ficou entre 35 e 40 (e em 2019 variava entre 60 e 70). Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Governo de São Paulo, diz que espera a estação de chuvas passar para a próxima medição.
"Quando chove muito há uma variação muito grande. Estamos já próximos dos 30, mas como a chuva jogaria a nosso favor, queremos medir num outro período", diz.
De acordo com José Carlos Mierzwa, professor da Escola Politécnica da USP, um DBO de 30 mg por litro é suficiente.
"O esgoto bruto tem entre 150 mg e 300 mg por litro. Com 30, as condições de coloração e odor da água já ficam bem mais adequadas", afirma.
Ele, que acompanha de perto a implementação das cinco estações de tratamento locais, diz estar otimista para sua entrega até o fim do ano.
"E se você para de lançar esgoto no rio, o processo de limpeza acaba sendo rápido, porque o próprio ciclo hidrológico ajuda. À medida em que vai chovendo, a água vai sendo substituída", afirma.
Ele faz, porém, a ressalva de que o trabalho deve ser constante. "Para o futuro, a prefeitura precisa ficar atenta aos problemas de uso e ocupação do solo. Se houver novas ocupações ilegais com lançamento de esgoto no rio, o trabalho pode ter o efeito reduzido."
Guilherme Checco, coordenador de pesquisas do IDS (Instituto de Democracia e Sustentabilidade) elogia o projeto e modelo de concessão por performance, mas chama a atenção para outro problema.
"Não basta olhar só o Pinheiros. Temos que levar em conta todo o território. Os reservatórios conectados ao rio, Billings e Guarapiranga, têm desmatamento e ocupações ilegais em seus arredores", afirma. Segundo ele, a atenção dada aos mananciais é aquém da necessidade.
A Sabesp afirma que, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, já investiu R$ 200 milhões na bacia do Guarapiranga, apreendeu equipamentos de desmatamento e ocupação e realocou famílias para outras áreas.
Mesmo que o Pinheiros fique limpo, Mierzwa e o secretário Penido são taxativos em afirmar que banho, pesca e água potável nunca serão uma opção. "É um rio urbano. Tem poluição difusa. As partículas ficam em suspensão, decantam e caem no rio, então nunca será próprio para esses fins", diz Penido.
O que se pode fazer com o rio mais limpo é aproveitar suas margens. E essa é a ideia do projeto Novo Pinheiros.
Na margem leste (que tem estações da CPTM), já há 14 km de ciclovia e pontos comerciais. Segundo Penido, o número de ciclistas ali foi de 20 mil por mês em 2017 para 200 mil em 2021.
E na margem oeste haverá o parque Bruno Covas. Serão 17,1 km desde a ponte Transamérica até o encontro do Pinheiros com o Tietê. Haverá ciclovia, quadras, espaços para comércio e quiosques.
O primeiro trecho, de 8,2 km, entre as pontes Transamérica e Cidade Jardim, será entregue em abril, diz Penido. O segundo, previsto para julho, será entre as pontes Cidade Jardim e Cidade Universitária. Um terceiro ainda depende da conclusão de outra obra, da concessionária de energia elétrica Enel, na região.
Além disso, está prevista para 2024 a requalificação do prédio da Usina São Paulo, onde haverá espaço para restaurantes, comércio e cinema.
"Essa é cereja do bolo. Já houve a concessão, tudo já foi aprovado, e agora o consórcio começa a revitalização da fachada", diz o secretário. (Foto: arquivo CNB)
Fonte: Folha, 22/01/2022