A prévia da inflação oficial no Brasil até desacelerou na largada de 2022, mas segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses, apontam dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15).
Em janeiro, o indicador teve variação de 0,58%, informou nesta quarta-feira (26) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O resultado sinaliza uma perda de fôlego frente a dezembro de 2021, quando a alta havia sido de 0,78%.
Mesmo com a desaceleração, a taxa de janeiro ficou acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço menor no período, de 0,44%.
Com a entrada do novo dado, a prévia da inflação acumulou alta de 10,20% em 12 meses. Nesse recorte, analistas também esperavam variação mais baixa, de 10,04%. Até dezembro, o acumulado era de 10,42%.
O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também calculado pelo IBGE.
O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. Por isso, é conhecido como uma prévia.
Em 12 meses, o IPCA-15 está bem distante da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA. Em 2022, o centro da meta é de 3,50%. O teto foi definido em 5%.
Analistas do mercado já projetam novo estouro da meta, o segundo consecutivo, com o IPCA acima dos 5% no acumulado de 2022.
ALIMENTAÇÃO PUXA RESULTADO
Em janeiro, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta de preços, segundo o IPCA-15.
O maior impacto (0,20 ponto percentual) veio de alimentação e bebidas. O segmento teve avanço de 0,97%, acelerando frente ao mês anterior (0,35%).
Dentro do grupo, a alimentação no domicílio subiu 1,03%. Os maiores impactos vieram da cebola (17,09%), das frutas (7,10%), do café moído (6,50%) e das carnes (1,15%), diz o IBGE.
Por outro lado, houve queda nos preços da batata-inglesa (-9,20%), do arroz (-2,99%) e do leite longa vida (-1,70%), que já haviam recuado no mês anterior.
A alimentação fora do domicílio, por sua vez, teve avanço de 0,81%. O lanche passou de queda de 3,47% para alta de 1,25%, enquanto a refeição subiu 0,63%, resultado inferior ao do mês anterior (1,62%).
Depois de alimentação e bebidas, os destaques em janeiro foram os grupos de saúde e cuidados pessoais (0,93%) e habitação (0,62%). Os segmentos contribuíram com 0,12 ponto percentual e 0,10 ponto percentual, respectivamente.
Os transportes pegaram a contramão e registraram a única queda de preços entre os grupos no IPCA-15. O recuo foi de 0,41% em janeiro, após forte alta de 2,31% em dezembro.
O resultado de transportes foi influenciado pelas baixas nos preços da gasolina (-1,78%) e das passagens aéreas (-18,21%), de acordo com o IBGE. Etanol (-3,89%) e gás veicular (-0,26%) também tiveram variações negativas no período.
CHOQUES NA PANDEMIA
Uma sucessão de choques vista ao longo da pandemia ajuda a explicar a escalada dos preços no Brasil. Após desalinhar cadeias produtivas globais, a crise seguiu provocando escassez de insumos no mercado internacional em 2021. Com a falta de matérias-primas e a reabertura da economia, os preços ficaram mais caros em diferentes regiões.
Atividades como a indústria automobilística estão entre as mais afetadas pela situação.
No Brasil, a pressão gerada pela escassez de insumos foi intensificada pela desvalorização do real ante o dólar. A moeda americana subiu em meio a turbulências na área política protagonizadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
O câmbio elevado também encareceu os combustíveis para os brasileiros. Isso ocorreu porque o dólar é levado em consideração pela Petrobras na hora de definir os preços nas refinarias de itens como gasolina e óleo diesel.
A inflação ainda foi turbinada pelos choques climáticos ao longo do ano passado. A crise hídrica que atingiu o país aumentou os custos para geração de energia elétrica e, como consequência, as contas de luz dos consumidores. Além disso, a seca, aliada ao registro de geadas, encareceu alimentos.
Em 2022, o clima adverso volta a causar preocupação entre economistas. O temor é motivado pela estiagem que castiga lavouras no Sul e em parte do Centro-Oeste. Com os prejuízos no campo, há perspectiva de novas pressões sobre os preços de parte dos alimentos nas cidades.
Para tentar conter a inflação, o BC vem subindo a taxa básica de juros. O efeito colateral da Selic mais alta, atualmente em 9,25% ao ano, é inibir investimentos produtivos e consumo, já que as linhas de crédito ficam mais caras.
Fonte: Folha de S. Paulo, 26/01/2022