Por Jorge Hori* - Há uma movimentação de setores da sociedade acreditando que a retomada pós-pandemia será verde. Para reforçar as esperanças, há propostas de reestruturação urbana, recheada de interessantes desenhos de arquitetos, mas que não saem das pranchetas ou das telas de computador.
As propostas são de substituir os espaços viários por áreas de lazer, acreditando que aqueles não serão necessários, com a redução das viagens por carro, substituídas pelas movimentações por bicicletas ou a pé. Tem, como pressuposto, que as pessoas vão morar perto dos locais de trabalho, muitos dos quais pela distância do dormitório à sala de trabalho, em casa. E vão fazer as compras e o uso de serviços perto de casa.
Haverá, sem dúvida, redução da movimentação por carros, acompanhando a redução da movimentação em geral, mas não vai acabar. As pessoas com acesso a um carro particular irão se movimentar menos, mas quando o fizerem, será com o seu carro.
Uma cidade moderna não funciona sem uma infraestrutura viária, complementada por espaços para estacionamento de carros. Esses poderão ser em espaços viários públicos, isto é, na rua, ou em espaços privados, agregados tanto às residências, como aos locais de trabalho, de compras ou de serviços. Por serem vitais, levam a uma visão de ambientalistas e outros de que reduzindo ou eliminando as vagas as pessoas usariam menos carros, reduzindo os impactos das emissões de gases de efeito estufa.
Fernando Haddad, quando prefeito de São Paulo, efetivou medida concreta reduzindo cerca de 5 mil vagas em vias públicas, para colocar ciclovias e outros equipamentos urbanos. Reduziu o número de carros em circulação, melhorou o trânsito na cidade de São Paulo? Não. Incentivou o uso de aplicativos de chamada. O número de carros diminuiu, mas o seu uso e circulação aumentou. O trânsito até piorou. Foi agravado pelas pessoas circulando atrás de vagas em vias públicas. Ou pior: em filas duplas, esperando um carro sair de uma vaga para ocupá-la.
Reduzir vagas para carros não desincentiva o uso do carro particular e gera novos transtornos no trânsito.
Vagas para estacionamento de carros são uma infraestrutura vital para a melhoria da mobilidade urbana.
A sociedade entende dessa forma. A dificuldade está em convencer os técnicos que têm convicção absoluta de que eles estão certos e a sociedade errada.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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