Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as concentrações urbanas, que não param de crescer, com destaque para os deslocamentos de seus habitantes entre as cidades que as compõem, chama outra vez a atenção para a necessidade de implementar as regiões metropolitanas, que são o quadro institucional dentro do qual devem ser resolvidos os graves problemas criados por essa realidade. Esse é um desafio que vem de longe e só faz aumentar, mas nem por isso o poder público se decidiu a enfrentá-lo como deveria. O trabalho que acaba de ser divulgado, feito com base nos dados do Censo de 2010, mostra que nas 26 grandes concentrações urbanas do País viviam naquele ano 79 milhões de pessoas, ou 41,3% da população brasileira.
Mais de 7,4 milhões de pessoas se deslocavam diariamente entre as cidades desses aglomerados para trabalhar ou estudar. Como sabidamente os investimentos em transporte público ficaram muito aquém do que era preciso, e como a população continuou a crescer, os problemas só se agravaram desde então. São Paulo ocupa uma posição especial nesse quadro, pois tudo, para o bem e para o mal, é superlativo no Estado. Ele é o único que tem mais de uma daquelas concentrações.
São5, acomeçar pela da capital e outros 35 municípios, com 19, 6 milhões de habitantes, seguindo- se as regiões de Campinas (1,8 milhão), Baixada Santista (1,5 milhão), São José dos Campos (1,4 milhão) e Sorocaba (779 mil). Outros estudos indicam que essas concentrações que formam a já chamada Macrópole Paulista, com 153 das 645 cidades do Estado têm 30 milhões de habitantes (72% do total de São Paulo) e respondem por 27% do PIB do País e 80% do PIB do Estado. Outro dado importante referente ao Estado daqueles 7,4 milhões de pessoas que se deslocam dentro das 26 concentrações, 1,7 milhão o faz na região metropolitana de São Paulo.
Um número bem maior que o da segunda colocada, a do Grande Rio, com 1 milhão. O principal fator de integração entre os municípios, de acordo com o conceito de concentração adotado pelo IBGE, são esses deslocamentos. Eles mostram, com maior clareza que outros elementos, a interligação que ultrapassa as divisas territoriais dos conglomerados.
O principal desafio colocado por esse fenômeno de intensa urbanização continua sendo aumentar a oferta de transporte público de qualidade rápido e confortável nas capitais, única forma de levar mais pessoas a desistir do transporte individual e desafogar o trânsito. Isso significa um esforço, por parte do poder público, muito maior do que feito até aqui para melhorar o serviço de ônibus, único meio de transporte coletivo no qual se podem conseguir avanços significativos no curto prazo.
E, pensando a médio e longo prazos, aumentar os investimentos em metrô e trens de subúrbio. Mas a ele veio se juntar outro o do transporte intermunicipal para servir às cidades que integram conjuntos cada vez maiores e, portanto, mais distantes umas das outras.
Nesse ponto, São Paulo tem feito alguns avanços, pelo menos no que se refere ao planejamento. Há projetos de trens regionais prontos para serem executados, como o do expresso que vai ligar São Paulo a Jundiaí, que terá conexões com linhas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Ele deverá transportar 20 mil passageiros por dia e se prevê que 40% das pessoas que hoje usam carro para o trajeto São Paulo-Jundiaí optarão pelo expresso. Mas dificilmente se avançará, pelo menos não na velocidade necessária, se não se tornarem realidade as regiões metropolitanas, que criam mecanismos necessários para levar os municípios e os Estados a agirem de forma conjunta na solução de problemas que ultrapassam as fronteiras entre eles e que não se limitam aos transportes.
A integração dos serviços de saúde e o combate às enchentes são alguns exemplos disso. Já se estudou e se discutiu exaustivamente tudo sobre essa questão, inclusive levando em conta a experiência de outros países. É mais do que hora de agir.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 14 de abril de 2015