Por Jorge Hori* - As inovações tecnológicas têm um grande poder de sedução das pessoas, principalmente daquelas com maior cultura, gerando uma obnubilação sobre as suas motivações e consequências. Em alguns casos são vistos como a "salvação do mundo", resolvendo todos os problemas que enfrentamos no dia a dia.
O caso mais recente é do carro autônomo, esperado com grande ansiedade pelas pessoas de maior renda que teriam condições econômicas em adotar essa opção, para maior comodidade, conforto e segurança nas suas locomoções inter e intraurbanas. Também pelos técnicos que veem no carro autônomo a solução para a mobilidade urbana, com redução dos congestionamentos. É um grande equívoco de percepção, ou uma grande ilusão.
O carro autônomo está sendo desenvolvido como uma solução para um grave problema da indústria automobilística: a tendência de redução da produção dos carros, diante da crescente desistência das pessoas, principalmente dos jovens, em ter o seu carro.
Pode resolver o problema das fabricantes, mas não da mobilidade urbana. Ao contrário, o carro autônomo irá piorá-la.
Dois casos emblemáticos de inovação tecnológica demonstram a tendência.
A primeira é da fotografia. A tecnologia tradicional de captação da imagem em câmara escura, num filme, depois revelado e copiado em papel apropriado, gerou um grande grupo empresarial de âmbito mundial, que hoje é apenas uma empresa especializada em produção de papel fotográfico. A fotografia digital liquidou a Kodak. Esse desastre de uma das maiores empresas mundiais que não acreditou na inovação tecnológica é usado como o maior exemplo das mudanças dos riscos de não adaptação àquelas.
A Kodak quebrou, mas a fotografia se ampliou. A quantidade de fotografias tiradas, agora na forma digital, se ampliou exponencialmente.
O mesmo ocorreu com a telefonia. A telefonia celular "acabou" com a telefonia tradicional, com os aparelhos fixos. Mas não acabou com a telefonia: mudou o processo, mudou o aparelho, mudou a cadeia produtiva, mas não a própria telefonia que, ao contrário, se ampliou imensamente. A quantidade de aparelhos aumentou em muito, o número de ligações também.
As montadoras têm as mesmas expectativas. Não querem se transformar numa "Kodak" mas participar de um novo e maior mercado de automóveis. A perspectiva é que o veículo sofrerá grandes mudanças tecnológicas, levará a mudanças significativas do modelo de negócio, mas o produto continuará existindo em volumes maiores, sem o acompanhamento do crescimento das vias de trânsito daquele. Consequentemente os congestionamentos aumentarão. A saída seria o carro voador, cuja movimentação trará outros problemas.
O carro autônomo poderá dar ao usuário maior conforto e segurança, mas não comodidade. Num primeiro momento poderá dar ganhos de tempo, porém, com a ampliação do mercado essa vantagem se esgotará. Como já ocorre com o Waze e outros aplicativos que orientam a busca de caminhos alternativos. Todos passaram a ficar congestionados.
Mas a pergunta que mais nos interessa aqui é: onde ficarão os carros (elétricos, autônomos e com outras inovações) quando não estiverem sendo utilizados? Ficarão em estacionamentos pagos?
Aumentarão a demanda dos estacionamentos pagos ou fugirão deles?
Diante dessa perspectiva, que já está em curso, embora ainda em pequena escala, apenas em algumas cidades no mundo, o que as empresas de estacionamento pago podem oferecer para captar os usuários do carro autônomo?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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