Por Jorge Hori* - Ainda no início do segundo semestre de 2018, Jair Bolsonaro era visto como um candidato que "derreteria", iniciada a campanha pela televisão. A maioria dos empresários brasileiros ainda contava com uma reação dos candidatos de centro, principalmente Geraldo Alckmin. Poucos saíram em apoio a Bolsonaro, contrariando o "establishment". Alguns por compartilharem inteiramente as posições de Bolsonaro, como o desconhecido (para a elite paulistana) e folclórico “paletó verde”, dono de uma rede de lojas fora de São Paulo, Luciano Hang. Em São Paulo, uns poucos acompanharam o antipetismo radical de Bolsonaro.
No segundo turno, diante de uma disputa direta contra o PT, muitos empresários aderiram a Bolsonaro, justificando que votaram contra o PT.
Mas, uma vez empossado, com a formação de um Ministério com dois superministros (Paulo Guedes e Sérgio Moro), aderiram de "corpo e alma", tornando-se "bolsonaristas desde criancinha", com a esperança e torcida de que ele afinal iria mudar o Brasil e colocar o país na rota do crescimento.
Ao final do primeiro ano do mandato, os resultados ficaram muito aquém do esperado, mas as esperanças permaneceram, com os avanços institucionais. A Reforma da Previdência foi aprovada, embora desidratada. As expectativas são de aprovação da reforma tributária e administrativa, já na pauta do Congresso.
No início do mandato, Bolsonaro passou a ter o apoio de mais da metade do eleitorado. Foi perdendo parte desses apoios em função da relação com os filhos e de confrontos desnecessários, mas mantém firme o apoio de cerca de 30% da população.
No meio empresarial, segundo pesquisas específicas, teria apoio superior ao índice médio.
Esse não decorreria dos resultados, mas ainda das esperanças: 2019 não foi bem, mas também não foi mal. 2020 vai ser melhor para a economia.
Para Bolsonaro e Paulo Guedes é suficiente para alardear sucesso. Para o mercado não. Ainda faltam pedidos, falta demanda.
O "black friday" foi um inegável sucesso. Mas como vai ser o "black friday after"? Os consumidores vão continuar comprando regularmente ou esgotaram a sua capacidade de compra e vão juntar dinheiro para o "black friday" de 2020, como fizeram em 2019?
O evento mudou substancialmente a cultura de compra de TVs e de outros eletrodomésticos. A anterior era dominada pelo carnê, em que o consumidor só se importava com o valor da prestação. Se ele achasse que cabia no seu orçamento mensal comprava, sem se importar com o número de prestações e os juros embutidos. Comprava, para ter logo o produto, comprometendo a sua renda futura.
Com a renda futura não assegurada, pelo risco de desemprego, ele mudou de comportamento. Passou a guardar o dinheiro para comprar à vista, com substanciais descontos no "black friday".
Dentro dessas mudanças, o "day after" será de uma enorme ressaca, para o comércio e para a indústria.
Menos compra no varejo significa menos demanda por estacionamentos pagos.
Como ficará o apoio dos empresários ao Governo Bolsonaro, com essa ressaca?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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