Os indicadores do primeiro semestre no Brasil surpreenderam positivamente. O PIB do primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado, cresceu 3,2%. Só para efeito de comparação, as previsões para o PIB desse ano feitas no final do ano passado estavam próximas a 0,5%. É claro que esta previsão é para o ano todo, mas o número do primeiro semestre é muito maior do que se esperava no ano anterior.
O segundo semestre trará desafios ainda maiores. A taxa maior de juros e a relativa demora do mercado de trabalho em aumentar a renda média do trabalhador, além do endividamento maior das famílias, trarão obstáculos adicionais.
Ainda assim, mesmo essas variáveis já estão melhorando. Os últimos dados de mercado de trabalho já trazem boas novas. A inflação começa a cair com força e não apenas em combustíveis e energia por conta de cortes nos impostos. Já temos dados bons em alimentação, que começa a devolver os choques de commodities – essas já vêm se ajustando por conta do aumento dos juros nos EUA e na Europa.
De qualquer forma, outras boas notícias já vêm aparecendo no horizonte. A primeira vem do relatório Focus, que é um apanhado das projeções de bancos, consultorias e instituições financeiras sobre as principais variáveis econômicas brasileiras.
As divulgações das últimas semanas nos trazem um aviso inequívoco: o mercado não está se preocupando, ou pelo menos, tem menos preocupação do que se imagina com o resultado das eleições. Os agentes parecem se apoiar no fato de que, independentemente de quem ganhe as eleições, não vai haver nenhuma loucura no campo econômico.
Os dados reafirmam essa tese: a projeção de inflação para 2022, que estava em 6,8% há duas semanas, caiu para 5,8% nessa últimas pesquisas. E se estabilizou em 5% em 2023, caindo para algo próximo a 3,5% em 2024 e 2025. Não é o ideal, porque ainda assim está acima da meta, mas está longe de se mostrar trágico.
Outra variável-chave, a dívida líquida do setor público mostra os seguintes números em relação ao PIB: 58,4% neste ano e 63,2%, 65,2% e 67,2% de 2023 a 2025. Novamente dá para melhorar essa performance esperada, mas não há nenhuma ruptura em vista, depois de incorporadas as renúncias fiscais em 2023. Esse é o maior ponto de preocupação. A única exigência do mercado é que o próximo presidente não faça nenhuma loucura. Revogação de reformas já feitas ou da responsabilidade de gastos e medidas populistas não serão toleradas pelos investidores, que exigem estabilidade, principalmente para investimentos de longo prazo.
Uma janela bem interessante para nossa economia está se abrindo na economia internacional. Em princípio a normalização das políticas monetárias de países desenvolvidos seria ruim para o País, pois o aumento de juros internacionais pode levar dólares daqui para fora, mas paralelamente muitos fatores estão jogando a favor de nossa economia.
Em recentes conversas com empresários, é clara a sensação da melhoria da visão do Brasil pelos investidores estrangeiros. Eles veem o país como uma excelente alternativa para investimentos produtivos nos próximos anos. Esse aparente otimismo está baseado em alguns fatores novos do cenário internacional.
O primeiro tem a ver mais com problemas de nossos concorrentes por investimentos, que estão em situações complexas, como a Rússia inserida em uma guerra que vem minando sua economia, Turquia cercada de decisões populistas desastradas, México e Argentina em situação delicada. O Brasil parece ser uma ótima opção com sua matriz energética limpa, mercado gigante e uma cultura muito mais conhecida pelos países ocidentais, que pós-pandemia estão mais ressabiados quando se fala em Índia e China.
Outro ponto a se considerar é que o Banco Central decidiu na última reunião pela manutenção da taxa de juros, enquanto o FED, Banco Central americano, manteve o processo de aperto monetário. No segundo semestre de 2023 é bem possível que o Brasil já inicie um processo de flexibilização monetária, enquanto outros países ainda estarão aumentando suas taxas. Se espera que a alta de juros nos EUA se estenda, pelo menos, até 2024.
A divulgação dos dados sobre investimento estrangeiro direto no Brasil já vem mostrando sinais de melhora. Entre janeiro e julho entraram para investimento em produção mais de US$ 65 bilhões, ou 3,73% do PIB. Esse dado é uma mostra inequívoca de uma melhoria da visão dos estrangeiros sobre a economia brasileira.
Mas sempre é importante lembrar: esse cenário mais positivo está ligado a uma gestão responsável da atividade econômica. O mercado tem uma visão mais racional de eleições e foca na ação de na política econômica, independentemente de bandeiras políticas. Parece que o mercado confia na estabilidade, mas se essa não se concretizar os resultados podem virar rapidamente.
Gouvêa Analytics é a unidade de mapeamento de tendências econômicas da Gouvêa Ecosystem, 03/10/2022