Por Jorge Hori*
A atividade de estacionamento pago na cidade de São Paulo terá de enfrentar os seguintes grandes desafios:
1 - redução generalizada da demanda;
2 - mudança do perfil de veículos demandantes;
3 - automação por aplicativos;
4 - pressão pela cobrança por períodos menores de permanência;
5 - redução da disponibilidade de terrenos vagos;
6 - implantação de edifícios-garagens.
A redução generalizada da demanda decorrerá de todo o esforço com medidas legais e campanhas da Prefeitura Municipal para reduzir o número de automóveis em circulação.
Nessa campanha, a Prefeitura Municipal tem o entendimento - ainda que equivocado, mas dominante dentro dela - de que disponibilidade de estacionamento induz a utilização do automóvel. E promove a redução das vagas. Como a sua atuação é somente sobre as vagas em vias públicas, uma parte dos antigos usuários das vagas públicas migra para os estacionamentos pagos, continuando a utilizar o carro.
Porém, a demanda eventual daqueles que usavam o carro e iam para o estacionamento pago porque não encontravam vaga pública deixará de existir. Esses não irão mais de carro próprio ao seu destino.
A campanha promove uma redução generalizada da demanda, tanto das vagas públicas como das vagas privadas.
Essa redução afetará mais os carros populares, de tal forma que a demanda dos estacionamentos pagos passará a ter um perfil com maior proporção de carros grandes e importados. O que irá requerer maior treinamento dos manobristas e ampliação do tamanho das vagas, nos autoestacionamentos. E uma avaliação sobre a cobrança de preços diferenciados, dados os riscos de interferência pública nas políticas tarifárias.
A mudança do perfil deverá influir também sobre o uso dos tags-transponder como o Sem Parar e outros, o que poderá resultar em mudanças nos mecanismos de entrada e saída. A leitura dos tags pode ser feita eletronicamente sem necessidade de bloqueios.
A redução das vagas públicas poderá levar para os estacionamentos usuários de curta permanência, os quais pressionarão por cobranças por tempos menores de permanência. O problema maior não está no fracionamento dos horários, mas no valor do ingresso, que tem sido em torno de 60% do valor horário, o que pode gerar revolta dos usuários. Haverá necessidade de campanhas de esclarecimento sobre o custo do ingresso.
O maior impacto das mudanças nas leis urbanísticas está na obrigatoriedade de construção em terrenos vagos utilizados como estacionamento, para atender à função social da propriedade urbana.
Não seria um problema grave, pois na maioria dos casos os terrenos estão sendo utilizados como estacionamento, temporariamente, até que se comece a construção de um imóvel. A eventual demora decorria de problemas no licenciamento. Agora esse foi agilizado, mas, em contrapartida, o mercado imobiliário arrefeceu e não há condições favoráveis para os lançamentos. E a utilização para estacionamento deverá ser por mais tempo do que os exigidos pela lei para a ocupação por uma construção.
Tanto o Plano Diretor como a Lei de Zoneamento enfatizam a solução dos edifícios-garagens. No entanto, como estabelecido, apesar dos incentivos, não será solução viável em curto prazo.
Diante dos desafios, o setor deverá formular um plano estratégico para enfrentá-los.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.