Por Jorge Hori* - O automóvel surgiu como uma solução para a mobilidade, principalmente a urbana. Hoje, em todas as grandes cidades mundiais, virou um problema.
A indústria automobilística está promovendo inovações para preservar o seu produto básico. Seja o carro autônomo, elétrico ou híbrido, transformado em serviço, uso compartilhado e outras inovações são do automóvel. Continua “dentro da caixa". Não são soluções para melhorar a mobilidade urbana, embora usem esse argumento, para vender as suas inovações. Continua sendo a movimentação por carro, com as limitações de ampliação ou modernização da infraestrutura terrestre.
Os jovens das classes mais altas não querem ter carro próprio, mas não dispensam o automóvel. Não é deixar de ter carro e passar a andar de ônibus. Este pode ser um estágio ou castigo durante a fase de cursinho, mas, ao entrar na faculdade, em vez do carro querem mais liberdade. E se locomover de automóvel usando os aplicativos ou o automóvel compartilhado (ainda um serviço pouco desenvolvido). Em algumas situações, irão usar a bicicleta compartilhada. Ou, mais recentemente, o patinete elétrico.
Essa mudança de hábitos não melhorou a mobilidade urbana. Ao contrário, piorou. E a ideia de que cada carro iria poluir menos foi contrariada: os carros estão circulando cada vez mais e poluindo mais. E a perspectiva de que o tamanho da frota iria diminuir também não ocorreu. A mudança de hábitos ainda não chegou às populações de média renda. Com um agravante: com a redução dos preços nas corridas dos aplicativos, em função de uma saudável competição entre os operadores, quem vem perdendo mercado é o transporte coletivo, para as corridas curtas. Essas ocorrem em maior escala nas áreas mais congestionadas.
A modernização do uso do automóvel está causando efeitos contrários ao desejado: piorou a mobilidade urbana e aumentou a poluição gerada pelos automóveis.
O carro elétrico pode reduzir a poluição, mas não tem efeito diferenciado sobre a mobilidade urbana, em relação ao movido por combustão de produtos fósseis. O carro autônomo é uma ilusória comodidade para o motorista, mas é inviável nas grandes cidades dos países menos desenvolvidos. Por que investir na automação do sistema viário, em vez de investir em transporte coletivo, com vias dedicadas, como o metrô?
Um outro dado que precisa ser considerado é o tempo de maturação de uma inovação. Que vem se tornando muito mais curto do que ocorria no século passado. O que gera riscos para as inovações que não têm condições de implantação rápida, em função de custos.
As perspectivas dos futuristas são de que em 2050 a maior parte da frota seja de carros elétricos. O que é muito provável, mas as inovações podem fazer com que o principal meio para a movimentação das pessoas não seja mais o automóvel, próprio ou compartilhado.
Em 2050 o automóvel remanescerá residualmente, substituído por novas formas que ainda não foram evidenciadas. Mas estão sendo desenvolvidas nos laboratórios.
A vida no futuro distante não será a mesma da atualidade. Poderá ser a mesma de hoje, melhorada. Ou inteiramente diferente. A inovação da mobilidade urbana poderá ser gradual ou de ruptura. Será possível prever a ruptura?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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