Por Jorge Hori* - A avaliação da conjuntura atual da economia se baseia em percepções equivocadas, o que leva ao seu não entendimento, às incertezas em relação ao futuro e a proposições inadequadas para o restabelecimento da normalidade.
A economia brasileira é fundada no consumo das famílias e gira num movimento circular, espiral: no retorno ao eixo principal o PIB poderá estar no mesmo patamar anterior, acima ou abaixo. As previsões dos macroeconomistas é que, ao final de 2020, o PIB esteja de 5% a 8% do patamar de 2019. Deverá decorrer de uma queda entre 3,5% a 4,2% do consumo das famílias.
O fator principal que determina o crescimento ou decréscimo da economia como um todo, isto é, da macroeconomia, é o multiplicador de renda da demanda, do consumo das famílias, no caso da economia brasileira, o que depende da circulação dessa renda, entre pessoas físicas e o nível de retenção da renda, que pode ficar no banco ou "debaixo do colchão".
Um multiplicador de 1 significa apenas transferência de renda. Quando parte da renda corresponde a uma agregação de valor, compreendendo mão-de-obra, tributos e juros, como os recebedores gastam multiplica ou não a renda. Os bancos tendem a "empoçar" os recursos, retardando o multiplicador. O Governo é igualmente lento em gastar, por questões burocráticas. O destino dos gastos das pessoas determina diversos níveis de multiplicação.
O isolamento social fez com que os trabalhadores com renda reduzissem o seu consumo, poupando mais, mas reduzindo o multiplicador de renda. Num segundo momento, as vendas "on-line", inclusive de refeições prontas, recuperou um pouco a capacidade de consumo. No entanto, o dano colateral do isolamento provocou demissões, reduções de salários, perdas de mercado, por parte dos informais e com ampla redução da "massa salarial" e, consequentemente, da capacidade de consumo e redução do multiplicador.
Para o restabelecimento mais pronto da economia seria necessário recuperar a capacidade de consumo e revitalizar o multiplicador, rumo inaceito tanto pelas autoridades econômicas, como por grande parte dos economistas. Todos eles priorizam os investimentos como o principal mecanismo para a recuperação da economia, com diferença de momentos. Guedes defende, primeiramente, a geração de superavit corrente, nas contas públicas, para gerar recursos públicos para os investimentos. Enquanto isso, quer fazer as reformas para gerar condições de confiança para os investidores privados, nacionais e estrangeiros, aplicarem os seus recursos nesses investimentos, gerando mais empregos. Os desenvolvimentistas querem os investimentos públicos de imediato, mesmo ampliando o deficit e a dívida pública.
Esse rumo inadequado irá atrasar a recuperação. Só não será pior porque Bolsonaro, com o seu populismo, aceitou ampliar o valor inicial do auxílio-emergencial e agora não tem como interromper esse auxílio. Não compensará inteiramente a perda da massa salarial formal, mas terá efeitos setoriais distintos.
Não há perspectiva para a economia brasileira de uma recuperação macroeconômica rápida, embora a queda possa ser menor que a das previsões do mercado.
Estratégias inovadoras, "fora da caixa", abandonando velhos paradigmas, precisam ser formuladas para a recuperação desejada, dentro de um Novo Normal.
Nos próximos artigos trataremos disso, mas antecipamos uma mudança fundamental no Novo Normal: o mercado de trabalho será dominado pelo trabalho por conta própria, atualmente considerado preconceituosamente como "informal", em detrimento do regime celetista.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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