A fila de carros começa na Estrada Velha de Santos e termina na Anchieta. Se o artista a se apresentar for famoso, os congestionamentos chegam a quatro quilômetros. Foi o que ocorreu no show do grupo Asa de Águia, no último 25 de março, que atraiu 9 mil pessoas.
O problema crônico da Estância despertou o interesse do promotor da Cidadania do município, Jairo Edward de Luca, que há um mês chamou o proprietário da casa, Elói Carlone, e a Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), responsável pela administração da Estrada Velha, para conversar.
A intenção era resolver o problema aparentemente insolúvel. Caso contrário, a casa estava ameaçada de fechar ou ter de reduzir o público.
Após alguns dias, Carlone apresentou uma proposta: a construção de um estacionamento anexo à casa com capacidade para receber 15 mil veículos num platô cimentado de 300 mil m². Proposta que, se aceita pelas partes envolvidas (Promotoria e governos municipal e estadual), poderá aumentar ainda mais o público da Estância, sem causar o caos atual, acredita Carlone.
O empresário comprou uma área de 960 mil m², exatamente ao lado do terreno onde está construída sua casa de shows. O estacionamento teria duas saídas: tanto para a Estrada Velha de Santos como para a Anchieta, um pouco depois da passagem pelo pedágio.
As duas entradas, diz Carlone, vão distribuir os veículos e dar fim ao trânsito que tanto incomoda moradores locais e motoristas que dependem da Estrada Velha de Santos e que são obrigados a passar pelo tumulto de carros parados e adolescentes bebendo na pista nos fins de semana. A área onde seria o estacionamento, da antiga Automóveis Presidente, já está desmatada.
Quando a indústria se fixou no Riacho, na década de 1960, não havia qualquer impedimento com apelo ambiental. Por isso, foram movimentados 620 mil m³ de terra e fez-se um platô jamais permitido legalmente hoje pela atual lei de preservação de mananciais.
A devastação já estava feita, mas a indústria não durou mais do que cinco anos; desde então, a área está abandonada. A negociação entre o proprietário da Estância Alto da Serra e Nelson Fernandes, ex-presidente da empresa e, então, dono da área, foi concluída também em março. O terreno fará ligação direta com o atual estacionamento a uma proximidade de 100 m.
Uma das novas entradas seria pela Estrada Velha de Santos, cerca de 500 metros antes da atual. Hoje, o acesso fica na Rua Névio Carlone, com saída no Km 33 da Estrada Velha. "A pessoa fica procurando lugar para estacionar o carro e a fila de veículos pára a estrada. No fim, todos vão se acomodando nos estacionamentos vizinhos, mas causa transtorno", reconhece Carlone.
A fluidez maior do tráfego pode amenizar também o problema do famoso esquenta na porta da Estância. Na procura por vaga para estacionar, os jovens que vão aos shows começam a consumir bebida alcoólica vendida por ambulantes no trânsito na estrada.
"Em dias de shows grandes, abriria as duas entradas, a da Anchieta e da Estrada Velha do Mar. A Ecovias (que é responsável pelo gerenciamento da Anchieta) terá interesse, já que quem for pela rodovia terá de passar pelo pedágio", arrisca dizer Carlone, apesar de ainda não ter apresentado o projeto à concessionária.
A Ecovias evita falar no assunto antes de ser oficialmente procurada. O mesmo ocorre com a Prefeitura de São Bernardo, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e a Dersa, que aguardam ter o projeto do empresário em mãos para avaliá-lo.
O promotor Jairo Edward de Luca não quis comentar o assunto. Mandou apenas uma nota dizendo que a reunião entre as partes foi realizada.
Acesso fechado - O projeto do dono da Estância Alto da Serra esbarra num porém. O acesso da Estrada Velha do Mar à antiga empresa está fechado.
Um comerciante se estabeleceu logo após o antigo portal da Automóveis Presidente e instalou uma cancela na entrada da ruazinha de terra, impedindo a passagem ao terreno. "Na época, o proprietário daquela área na beira da estrada pediu para colocar um portão para proteger o local e nós deixamos. Agora, não quer liberar a entrada", explicou o procurador de Nelson Fernandes, Paulo Walter Saldanha.
Agora, Carlone briga na Justiça para que o acesso seja reaberto.O comerciante, conhecido como Altimar, não atendeu às ligações da reportagem. Um processo corre na 5ª Vara Cível de São Bernardo para que a Justiça decida se o atual proprietário deve retirar a cancela no Km 32,5.
Fonte: Diário do Grande ABC (São Paulo), 01 de maio de 2007