O "baixo paulista" é um território do centro expandido que vai "do lado de lá" da avenida Paulista (lado oposto do Jardins) à rua Avanhandava. Se você nunca ouviu falar dele, é a microrregião de São Paulo que vive sua temporada de alta.
O motivo da "ressurreição" desse território é o mesmo de outras reciclagens urbanas: jovens e artistas levados por aluguéis baixos e construtoras, que colorem e valorizam tudo, atraídas por terrenos baratos. O resultado dessa união: um novo boom imobiliário.
A gênese desse período é o anúncio da construção de um shopping na região, em 2000, que trouxe uma população diferente (com um pouco mais de dinheiro) para a área e que impulsionou um crescimento imobiliário antes somente isto no "lado de cá" da Paulista, a região nobre dos Jardins.
Desde então, segundo levantamento da administração do shopping, 520 prédios - num raio de até dez minutos a pé em torno do centro comercial - foram construídos ou estão em obras. Mudou o perfil da região. A inauguração do shopping ocorreu em maio de 2001.
No "baixo paulista" está a rua Frei Caneca, paralela à rua Augusta, um corredor de ligação entre uma área mais degradada do centro e a avenida Paulista.
A porção mais pobre é ocupada há duas décadas (pelo menos) por travestis, prostitutas e gays, o lado mais selvagem da rua. Hoje, nove prédios estão em construção só na Frei Caneca.
Na Bela Cintra, duas ruas ao lado, são mais cinco edifícios em obras, e três terrenos baldios estão em preparação.
"Deveria haver mais estímulos para que a população more onde haja infra-estrutura. Liberdade e Brás também são bairros completamente não adensados. É preciso expandir essa região", avalia Romeu Chap Chap, presidente do Secovi , o sindicato do setor imobiliário. "No centro tudo é mais fácil. É uma zona que estava deteriorada e que renasceu", complementou ele.
O professor de arquitetura do Mackenzie e da Escola da Cidade Júlio Artigas vai na mesma linha de raciocínio do empresário. "O maior problema do centro de São Paulo é a falta de habitantes. Não acho nada excepcional, a região estava subtilizada. Essa implantação está ao lado da linha amarela do metrô. É uma vivacidade que o centro, alguns anos atrás, não apresentava. É importante, é muito bom que se busque um adensamento das áreas centrais", diz.
Shopping Frei Caneca mudou perfil da região
Dois projetos que chamam a atenção no "baixo Paulista" são a construção de dois prédios idênticos de 40 andares, cada um, em frente ao Shopping Frei Caneca, e a inauguração em julho do edifício Çiragem (assim mesmo com cê cedilhado, referência ao palácio de Istambul), com 36 andares e um anexo comercial de mais de 12.
Dos 252 apartamentos do Çiragan, só um ainda não foi vendido. Preço da bagatela: cerca de R$600 mil por 112m². "São conceitos diferenciados", afirma a corretora Tânia Botta.
Em frente ao triângulo entre as ruas Peixoto Goide, Antônio Carlos e São Carlos do Pinhal, quatro torres de 20 e 25 andares foram recém-inauguradas. Do outro lado, o lançamento do Helbor Trend Jardins, também de 20 pavimentos, cobra R$258 mil para o apartamento de três quartos. "Tem lazer completo, menos playground. Não é um prédio para crianças, mas para executivos, médicos e gays", diz o corretor Roque Brito.
Atrás dessas construções, está a Maternidade São Paulo, na Frei Caneca, comprada pela Fundação Safra para aparentemente ser um centro cultural.
O próprio Shopping Frei Caneca, a pedra fundamental do "boom" da região, está em processo de expansão; Em fase final de aprovação na prefeitura, a ampliação terá 18 mil m², 60 novas lojas, três âncoras e 350 vagas de estacionamento.
"Sabíamos que iríamos mudar positivamente o perfil da região, mas não imaginávamos que seria uma mudança tão grande e tão rápida", avalia Wilson Pelizaro, superintendente do Frei Caneca.
O trânsito tende a piorar com o aumento da população na região.
A CET (Companhia de Engenharia de tráfego) diz que analisa, com as secretarias de Habitação e Transporte, Emurb e subprefeitura, a criação de planos diretores que aliviem os congestionamento e problemas de estacionamento.
Fonte: Folha de São Paulo (São Paulo), 29 de abril de 2007