A mudança no modo de ter (ou não) um carro particular afeta diretamente o negócio das redes de estacionamento. Se as pessoas não usarem mais seus automóveis em deslocamentos diários, o que será das companhias do setor, de suas vagas e de seus empregados?
Hoje, é comum que duas corridas — ida e volta — a bordo de um carro parceiro da Uber, da Cabify ou da 99 custe menos que o valor pago pela garagem em São Paulo ou no Rio.
É como se novos concorrentes surgissem para os estacionamentos, que podem se tornar prédios sem uso diante de novos modais e tecnologias de mobilidade.
As grandes redes buscam sobreviver, e as soluções podem estar no que parecia ser o problema: veículos compartilhados e transporte privado por aplicativo.
Se as ruas são dominadas por carros dos parceiros de apps, a alternativa é disponibilizar locais para que eles fiquem estacionados enquanto aguardam as novas chamadas.
A Estapar, maior operadora de garagens na América Latina, desenvolve parcerias com as empresas desenvolvedoras das plataformas, que pagam a conta.
A vantagem para o motorista é ficar parado sem risco de tomar multa, enquanto aguarda um passageiro.
André Iasi, presidente da Estapar no Brasil, diz que a ideia é baseada em estudos de mobilidade. “Se os estacionamentos não forem usados, haverá um colapso.”
Faz sentido: os veículos de aplicativo em circulação, estejam cheios ou vazios, impactam no trânsito. Só a Uber tem cerca de 500 mil motoristas cadastrados Brasil afora, e segue em crescimento.
Contudo, apenas a rotatividade desses veículos não seria suficiente para manter a boa margem de lucro dos estacionamentos.
Não será possível cobrar R$ 20 por hora ou períodos menores, valor que supera o preço da maioria das corridas em uma grande cidade. Aí entram bicicletas e patinetes compartilhados.
Oferecer locais para receber as bikes é um nicho de mercado a ser explorado pelas garagens. Para as operadoras, os gastos com estacionamento podem ser em parte compensados por redução de despesas com manutenção devido a atos de vandalismo.
No caso dos patinetes elétricos, os estacionamentos podem oferecer estações de recarga e manutenção sem que as prestadoras do serviço precisem alugar galpões para isso.
Tomadas para carros movidos a eletricidade também começam a surgir em algumas garagens, embora em volume tão tímido quanto a venda desses veículos no Brasil.
Em um futuro distante, os carros autônomos poderão garantir a sobrevida das vagas privadas. As frotas desses robôs de quatro rodas precisarão de locais de armazenamento.
É cedo para dizer que a combinação desses fatores será suficiente para que estacionamentos permaneçam sustentáveis, mas ao menos há esperança no fundo da garagem.
Fonte: Folha de S. Paulo/artigo de Eduardo Sodré, 27/11/2018