Por Jorge Hori* - Um informe publicitário promovido pela 99, encartado no suplemento especial do jornal Valor sobre mobilidade urbana, afirma que apps reduzem demanda por estacionamento. Segundo o informe, "estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra que os serviços de transportes intermediados pela 99 liberam cerca de 250 mil vagas na Região Metropolitana de São Paulo". O relatório da Fipe indica uma redução de 78 mil vagas na cidade de São Paulo.
Não obstante, os índices de lentidão na cidade de São Paulo continuam elevados, com a maior movimentação dos veículos pela vias.
Os resultados das pesquisas indicam ou confirmam que não é a disponibilidade de estacionamentos que atrai os carros e aumenta os congestionamentos.
O que piora a fluidez no trânsito é o volume de circulação dos veículos.
Uber ou 99 não mostram os dados estatísticos sobre o número de viagens por carro, assim como a quilometragem média. As poucas informações são de depoimentos de motoristas insatisfeitos, o que já carrega um viés negativo, porém, indicam uma quantidade de sete viagens ao dia, com percurso médio acima de100 quilômetros. Por outro lado, também não há estatísticas sobre as viagens/dia do carro particular e da quilometragem média. Mas para a maioria dos trabalhadores que usa o seu carro para ir de casa para o trabalho e para o retorno, congestionando as vias no horário de pico, só usa o carro duas vezes ao dia (uma para ida e outra para a volta) e não andará, normalmente, mais que30 quilômetros. O motorista do aplicativo, com um bom desempenho, conseguirá fazer duas viagens no pico da manhã e duas no pico da tarde, com algumas viagens adicionais no entre-pico, principalmente na hora do almoço. Fará pelo menos duas viagens curtas, com no mínimo10 quilômetros.
A frota de veículos poderia ser até menor, mas o seu uso maior. O que impacta o trânsito não é uma grande frota parada em garagens, mas essa frota em circulação.
Outro dado relevante, que os aplicativos escondem, mostrando apenas um lado, aparentemente favorável a eles, mas altamente danoso para os estacionamentos pagos, é que, com um carro na rua, aguardando a chamada de passageiros, esse tem que ficar estacionado em algum local, em geral, na via pública, para não ter custo com estacionamento.
Tendo que trabalhar pelo menos oito horas por dia, com o carro na via pública e circulando com passageiros, apenas a metade do tempo, estarão circulando à espera de chamadas, ou aguardando na via pública. Aumentando o fluxo de veículos ou reduzindo as áreas de circulação.
Para melhorar a fluidez do trânsito, o estacionamento fora das vias públicas é solução, não problema.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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