Por Jorge Hori*
O final de 2016 trouxe indícios de reanimação da economia brasileira. O mais importante é a retomada dos empregos no comércio nos três últimos meses, com mais admissões do que desligamentos, segundo o CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Há outros ainda menos evidentes, mas mais consistentes.
A evolução do comércio não é, nem será uniforme. Como em toda a economia. O segmento dos shopping centers ainda está em baixa e não deverá se recuperar tão cedo. Já os outlets deverão crescer a taxas de dois dígitos. Vários grupos de empreendedores estão se orientando no sentido dos shopping centers de outlets.
O desenvolvimento desse segmento comercial é explicável por três fatores principais, todos relacionados com a prolongada crise macroeconômica: sobra maior das coleções de grife, a disposição dos consumidores de comprar os produtos de marca, mas a preços menores, e a nacionalização dessas compras. Muitos turistas brasileiros foram ao exterior para compras em outlets e revenda no Brasil, com margem que cobria o custo da viagem. Com a maior oferta de outlets, para pequenos lojistas - principalmente do interior - uma viagem a Itupeva ou a São Roque passou a ser mais vantajosa do que ir a Orlando ou a Nova York. Agora toda uma região do sul de Minas pode parar em Atibaia.
A evolução da economia não será comandada pela macroeconomia, mas sim pela microeconomia. Vai depender do grau de acerto das estratégias empresariais na escolha do seu modelo de negócios e do perfil do seu portfólio.
Alguns produtos vão vender bem. Outros vão encalhar.
A retomada da economia não se dará por uma venda maior dos mesmos produtos.
Para a atividade de estacionamento, aparentemente os serviços serão os mesmos. Mas deverá haver mudanças segundo os locais.
Haverá locais com desenvolvimento de atividades demandando estacionamentos e outros onde haverá maior demora na recuperação da crise.
No caso do varejo, os shopping centers demorarão mais para se recuperar, enquanto os outlets e o comércio de rua se recuperação mais rapidamente.
O comércio de vestuário é, em geral, dividido nas categorias de ponta, como sendo de luxo ou 'premium', e o popular.
Na realidade, o maior consumo é da classe média tradicional. Essa buscou um upgrade no seu perfil de compras encontrando nos shopping centers o principal local, dada a diversidade de lojas e facilidades de estacionamento.
O boom do comércio varejista ao longo dos governos petistas até 2014, seja por conta da melhoria da renda, como pelos incentivos governamentais, levou vários grupos imobiliários a investir na construção de novos shoppings centers. Com a demora entre dois a quatro anos entre o lançamento e a abertura do shopping, alguns, iniciados por volta de 2012 e 13, com o mercado aquecido, ficaram prontos em plena crise. Com os novos estabelecimentos, a tendência maior é de canibalização.
O setor como um todo continuará amargando em queda no volume de vendas - excluídos os shopping centers de outlets - e fechamento de lojas, mas não será o principal termômetro da evolução do comércio brasileiro. Indicará apenas uma regressão no padrão de consumo da classe média, tanto da tradicional como da emergente, que voltou a submergir.
Com a redução do valor dos aluguéis e fechamento de lojas, para os empreendedores os estacionamentos serão uma importante fonte de receita, dando continuidade à tendência de gestão própria.
Só interessará a eles repassar os serviços, mediante a cobrança de aluguel fixo, baseada na ocupação ocorrida até 2014, isto é, num padrão de alta ocupação e tráfego e na perspectiva de retomada. O que deverá ocorrer, mas com incerteza do prazo e do sucesso da gestora do shopping em acelerar a retomada.
Quem irá se arriscar?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.