Se o advogado Davi Dias de Azevedo vai ao shopping, vai de patinete. Se o dia é de passeio no parque, ele considera a bicicleta a melhor opção. Mas, quando vai para uma reunião de trabalho, prefere ir de carro.
Ele, que não tem veículo na garagem e trabalha de casa, já se acostumou a escolher o seu meio de transporte entre os que estão disponíveis nas ruas da cidade a partir de uma série de aplicativos que permitem reservá-los.
“Economicamente, ficou melhor para mim assim. Além de usar só quando preciso, não tenho gastos com a manutenção dos veículos, como gasolina, IPVA, licenciamento”, diz.
A oferta desses meios de locomoção alternativos — que no mercado começa a ser chamada de micromobilidade — é recente no Brasil, mas a expectativa é que devem crescer com força já a partir deste ano.
A Yellow, empresa que começou a funcionar em agosto do ano passado oferecendo bicicletas amarelas, anunciou no último mês uma fusão com a startup mexicana Grin, de patinetes elétricas (também ativa no Brasil). A união das duas empresas deu origem à holding batizada de Grow.
Essa empresa combinada recebeu investimento de US$ 150 milhões (R$ 555 milhões) para acelerar sua expansão. O negócio já tem 135 mil patinetes e bicicletas em sete países e conta com 1.500 funcionários.
As empresas não esconderam que o motivo da operação tem relação com outro movimento nesse segmento que é esperado para breve: a entrada da Uber nesse mercado de micromobilidade em toda a América Latina.
A gigante americana, que em abril do ano passado comprou a Jump, startup de compartilhamento de bikes, confirma os planos para o Brasil neste ano, ainda sem uma data de lançamento.
Fabio Sabba, diretor de comunicação da Uber, diz que os novos modais de transporte serão especialmente interessantes para percursos curtos demais para ir de carro, mas distantes para ir andando.
Outra ideia da empresa, também compartilhada pela Yellow, é integrar o uso das bikes elétricas com estações de transporte público, mostrando ao usuário opções de trajeto que podem misturar ônibus, metrô, bicicleta, patinete e carro com motorista.
A companhia passou a usar informações do serviço Moovit para dar a usuários do aplicativo em Denver, nos Estados Unidos, opções de rotas envolvendo transporte público.
A espanhola Cabify, do mesmo setor, apresentou neste ano planos de se tornar uma plataforma em que se pode buscar várias modalidades de transporte.
Em entrevista para um grupo de jornalistas em janeiro, Juan de Antonio, fundador da empresa, disse querer tornar a Cabify a principal plataforma integradora de diferentes soluções de mobilidade da América Latina.
A companhia, que já permite contratar helicópteros em São Paulo graças à parceria com a startup Voom, investiu no fim do ano passado na startup espanhola Movo, de compartilhamento de motos, e prevê incluir patinetes no seu serviço iniciando pelo México.
O mercado também possui espaço para rivais menores, entre elas a Turbi, de aluguel de carros que ficam em estacionamentos de prédios corporativos e hotéis pela cidade, e a Riba, de scooters elétricas.
Segundo Diego Lira, cofundador da Turbi, seu serviço é adequado para situações como viagens, dias com compromissos em vários locais ou para compras em supermercados, quando chamar um carro por aplicativo pode ser mais caro ou inconveniente.
A companhia possui cerca de 150 carros em São Paulo.
Fernando Freitas, cofundador da Riba Share, de scooters, diz que os veículos que oferece são ideais em muitas situações por permitir deslocamentos longos que não seriam adequados em bikes e patinetes e ficariam caros em aplicativos de corrida.
Segundo ele, a variedade de opções vai beneficiar os usuários dos serviços.
“Não precisamos ter só um meio de transporte. A pessoa vai continuar precisando usar aplicativos de corrida em muitas situações. Quando chove, por exemplo, o scooter não é uma opção tão eficiente”, diz.
Apesar da empolgação, o setor já se mostrou desafiador em outros mercados.
A Ofo, pioneira do segmento na China, vem discutindo a possibilidade de pedir recuperação judicial em decorrência de dívidas e pedidos de consumidores de reembolso dos valores depositados em contas digitais para uso do serviço.
A companhia levantou bilhões em investimento de empresas como Alibaba Group e a Didi Chuxing e colocou mais de 10 milhões de bicicletas nas ruas. Porém enfrentou dificuldade para manter suas contas sustentáveis devido à intensa disputa de mercado com rivais, vandalismo e regras impostas pelas cidades em que o serviço funciona.
Fonte: Folha de S. Paulo, 16/02/2019