Por Jorge Hori*
O prefeito de São Paulo acredita religiosamente que o futuro da mobilidade urbana será da bicicleta e quer passar para a história como o precursor de uma tendência inevitável.
Mas o faz de forma equivocada, unindo-se a uma tribo de cicloativistas ou de bicimaníacos para a qual toda e qualquer movimentação urbana tem de ser feita por bicicleta.
A bicicleta é uma alternativa para a movimentação a pé. E desde que a topografia ajude. Essa é uma opção para a maioria das pessoas.
Para a maioria das pessoas a bicicleta não é uma alternativa a veículo motorizado. Só o é para fanáticos.
Usar a bicicleta para longas distâncias e em condições topográficas adversas é apenas para os bicimaníacos, e não uma solução generalizada de mobilidade urbana.
A bicicleta é o veículo insuperável para a movimentação de curtas distâncias, em áreas com poucas subidas e descidas. Só perderá para os automaníacos ou motomaníacos que usam o veículo motorizado para qualquer movimentação. Para pequenas distâncias por vias locais estes não causam grandes congestionamentos no tráfego, mas podem causar transtornos junto ou próximo aos locais de destino, em função da carência de estacionamentos. Ir de carro na padaria próxima, mas de qualidade que atrai muitos consumidores, pode ser um transtorno. A bicicleta seria uma solução melhor. E tenderá a ser mais utilizada, desde que o ciclista tenha maior segurança em deixar estacionada a sua bicicleta, enquanto faz as compras ou se alimenta.
O uso de bicicletas para longas distâncias serve para lazer, esportes ou para os bicimaníacos. Não é solução para a maioria dos trabalhadores. Não é solução para melhoria da mobilidade urbana. Pode até piorar quando autoridades “biciobsessivas” resolvem subtrair faixas de rolamentos em vias estruturais, mantendo-os reservados e ociosos para uso exclusivo de bicicletas.
A bicicleta é uma boa solução para a movimentação de casa até uma estação de metrô/ ferrovia urbana, a um terminal de ônibus ou estação de BRT, desde que esses disponham de bicicletários ou estacionamentos para bicicletas.
O estacionamento de bicicletas é um dos maiores empecilhos para sua utilização mais generalizada.
Diversamente do automóvel, que ainda tem a opção de estacionar em via pública, trancar e levar a chave, o que dá razoável segurança contra furto, a bicicleta não pode ser estacionada em qualquer lugar.
Incentivar o uso da bicicleta sem cuidar das áreas de estacionamento público é "um furo n'água". E só será um bom negócio em áreas de grande demanda com bicicletas de alto valor.
Por enquanto toda cadeia produtiva do uso da bicicleta estará restrita à tribo.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.