Por Jorge Hori*
Está sendo realizada em Quito, capital do Equador, entre os dias 17 e20, aterceira Conferência das Nações Unidas sobre a Habitação e o Desenvolvimento Urbano, a Habitat III. A tônica será "uma cidade boa de se morar". Os urbanistas se esmeram em propostas para que as pessoas possam morar bem ou melhor.
Só que as pessoas ou alvos dessa cidade melhor são os incluídos, os que têm alguma renda e possibilidade de opções dentro da cidade.
Uma das grandes questões é a mudança na tendência dos jovens que queriam ter um carro e agora já não dão tanta importância a possuir. Dão-se ao luxo de não querer ter um carro. Preferem morar em microapartamentos, usar o Uber e circular de bicicleta.
Estaria havendo uma mudança na perspectiva do "pertencimento".
Tendência que leva animados urbanistas e ambientalistas a decretar a "morte do carro". Boas cidades serão cidades sem carro: cidade para as pessoas, segundo novo mantra.
São belas ideias, algumas já implantadas em cidades de países mais avançados, como algumas europeias. Têm um guru, cultuado pela tribo: Jan Gehl. Como um dos seguidores Fernando Haddad, que compartilhando com essas ideias acabou derrotado nas eleições de 2016.
Essas ideias são atrapalhadas pelos pobres. Que não compartilham das mesmas visões. E, acima de tudo, não têm renda para opções.
E, no caso das cidades europeias, o novo problema são os refugiados, seja da guerra ou da pobreza, que atrapalham os sonhos dos urbanistas e da classe média em ter uma cidade melhor para eles.
Com base nessa visão fragmentada, os ingleses aprovaram o Brexit - abreviação das palavras em inglês Britain (Grã-Bretanha) e exit (saída), designa a saída do Reino Unido da União Européia. Agora uma grande parte está arrependida, porque os imigrantes não são bem recebidos, mas o capital também.
Numa enquete feita na periferia da cidade, uma mina respondeu "veja lá se vou namorar um mano que não tem carro!" A contrapartida do mano é que ele quer ter um carro para conquistar a mina. Diferentemente do "mauricinho" que não quer mais ter um carro porque a "patricinha" - supostamente - não faz questão.
Uma cidade boa para os urbanistas da classe média pode ser sem carro. Mas o sonho da classe pobre é ter carro: uma cidade para carros. Com vagas gratuitas para deixar o carro estacionado. Aqueles querem, no entanto, que esses só usem o transporte coletivo.
Essas transformações irão impactar fortemente o mercado de estacionamentos pagos.
As frotas de veículos tenderão a ficar estagnadas ou até regredir. Mas a utilização será mais intensa, com os veículos circulando mais e com menos tempo parados em estacionamentos.
Haverá uma demanda crescente por vagas em estacionamentos em vias públicas. Já os estacionamentos pagos poderão ter uma contenção de demanda.
Uma saída normal é a maior utilização de terrenos ainda vagos. Mas a Prefeitura não quer a utilização desses para estacionamento, segundo uma visão social, impraticável: substituir os terrenos usados como estacionamento para habitação social. Piora um problema e não resolve outro.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.