Por Jorge Hori*
Tem sido senso comum que a crise econômica atual tem como fundamento a falta de confiança dos agentes econômicos em produzir e investir. Essa já é decorrente da falta de confiança do consumidor que, diante das incertezas futuras, contraiu as compras. E desencadeou uma corrente negativa, que acabou por concretizar as profecias. Ao reduzir as compras, conteve as vendas do comércio que, com isso, demitiu trabalhadores. O comércio, com menores vendas, reduziu as encomendas para as indústrias que, também diante da redução da produção, demitiu. E as demissões geraram uma redução adicional de renda e, consequentemente, de compras. E a economia seguiu um curso descendente continuado e retroalimentado.
O restabelecimento da confiança se fará pela crença de que amanhã será melhor que hoje e que amanhã não faltará renda para repor o consumo de hoje. E o que fará com que o consumidor acredite nisso?
A imagem maior que caracteriza a desconfiança do consumidor é da falta de controle do governo sobre a economia. Ou que interfere desastradamente. Com a mudança do governo e o comando da equipe econômica entregue a Henrique Meirelles há um alívio, mas sem eliminar a desconfiança por conta da crise política.
Com a crise política conseguirá Michel Temer aprovar no Congresso as medidas necessárias? A primeira delas ele já conseguiu, mas conseguirá as demais? Se conseguir aprovar a PEC de controle sobre o aumento dos gastos públicos poderá restabelecer a confiança.
Com essa medida, a economia brasileira, que é essencialmente privada, poderá andar sozinha, não mais esperando por subsídios do governo ou por interferências indevidas.
Já poderia fazer isso, mas a cultura de dependência do Estado é ainda muito forte.
O empresário brasileiro precisa estar orientado para o mercado e não para o governo. Precisa perceber melhor os sinais reais do mercado e não o que diz o governo.
A retomada da demanda por estacionamentos deverá anteceder a retomada global. Essa ainda está muito atrelada à indústria, que será a última a retomar o crescimento pleno.
A economia brasileira já é hoje uma economia de serviços que domina cerca de 60% do PIB e dos empregos. Será a retomada dos serviços que irá promover a maior locomoção das pessoas dentro das cidades. E de carro.
Por outro lado, haverá uma mudança no perfil nacional da demanda por estacionamentos pagos. A tendência é de desconcentração regional.
O mercado das grandes cidades pode estar saturado, mas as cidades médias continuam crescendo e gerando oportunidades para estacionamentos privados. O comércio principal ainda é de rua, os shopping centers ainda não chegaram e as ruas do entorno já não comportam a demanda de carros.
A primeira alternativa das Prefeituras Municipais dessas cidades é implantar o estacionamento rotativo. As oportunidades para o estacionamento privado começam com o uso de terrenos vazios, mas na sequência haverá oportunidades para estacionamentos com manobristas e conquistará o mercado quem dispuser de manobristas qualificados e treinados, inclusive para movimentar os carros modernos, "cheios de truques".
O setor pode oferecer treinamento para os interioranos, patrocinados (ainda que parcialmente) pelas empresas interessadas em se instalar no Interior.
Diante da crise e queda de demanda nas grandes cidades é uma alternativa.
Mas o mais importante é se preparar para a retomada da economia.
Essa ocorrerá inevitavelmente. A incógnita é “quando”?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.