Por Jorge Hori*
Os movimentos anticarros, com grande penetração nas redes sociais, fazem campanhas contra os estacionamentos, pela sua crença dogmática de que esses atraem os carros, aumentam assim os automóveis nas ruas gerando congestionamentos e maior carga de poluição.
Em São Paulo, dominaram a política urbana do prefeito Fernando Haddad, estabelecendo diversas medidas para reduzir o número de vagas para estacionamento.
Algumas de efeito imediato, como a eliminação de vagas nas vias públicas, substituídas por ciclofaixas ou "parklets", outras de efeito em médio prazo, como o desestímulo à utilização de terrenos vagos como estacionamento e a redução de obrigação de construção de vagas nas novas edificações. A legislação urbana estabelecida foi além, substituiu as regras de exigências mínimas por outras de quantidades máximas de vagas.
Seus efeitos não serão imediatos, em função do direito de protocolo. A quase totalidade dos lançamentos imobiliários ainda foi licenciada segundo as regras anteriores.
A crise econômica afetou os resultados esperados, menos os volumes de movimentação de veículos, que aumentaram, apesar das medidas restritivas, gerando mais congestionamentos e redução das velocidades médias.
Conforme já analisado aqui, foi resultado da emergência e disseminação dos aplicativos de chamada, que determinaram o maior uso diário de uma frota menor. Com efeitos desastrosos para os estacionamentos pagos.
Com a retomada do crescimento econômico deverá ocorrer um aumento ainda maior da movimentação de veículos nas vias públicas e também um aumento de demanda por vagas de estacionamento.
Por outro lado, deverá ocorrer um aumento de oferta, o que deverá manter os preços comprimidos e diferenças maiores entre os valores mais altos e mais baixos. O balanceamento entre oferta e demanda será diferente em cada região da cidade.
Considerando as políticas públicas vigentes em relação às vagas em vias públicas, não se pode esperar uma liberação de uso em áreas proibidas, mas haverá aumento de demanda nas vias não proibidas, com espraiamento do uso. Algumas pessoas continuarão usando o seu carro particular e estacionando cada vez mais longe do seu destino, completando o percurso a pé. Ou vão preferir estacionar próximo a uma estação de metrô e completar a sua viagem de metrô. Podendo também optar pelo ônibus, o que será mais raro.
Apesar das restrições deverá ocorrer um aumento de oferta de vagas em terrenos vagos, envolvendo dois movimentos, em função da retomada de lançamentos e construção de novas edificações. De um lado a construção deverá reduzir as vagas em terrenos que estavam esperando a efetivação da construção. De outro, com a perspectiva de novos lançamentos, as imobiliárias comprarão mais áreas construídas, demolindo as casas, ocupando o terreno vago com estacionamentos, enquanto esperam a autorização para iniciar a construção. A espera com uso rentável é preferível à vacância. E os preços ficarão mais próximos dos pisos, contendo eventuais tendências altistas dos estacionamentos estabelecidos.
O principal aumento de oferta, no entanto, deverá ocorrer de pequenos estacionamentos informais, como alternativas de trabalho de manobristas demitidos pelas empresas.
O mercado formal de manobristas não deverá ter aumentos significativos, mantendo a rotatividade. Os demitidos que não conseguem nova admissão poderão buscar alternativa de trabalho no aluguel de terrenos vagos, investindo em equipamentos básicos de controle do movimento, com os recursos das rescisões, e instalar um novo estacionamento. Sem uma total regularização da atividade.
Eles poderão contar com o apoio dos usuários que reclamam dos preços dos estacionamentos. E querem pagar menos, mesmo com maiores riscos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.