Por Jorge Hori* - Há pouco mais de dois mês do primeiro turno das eleições municipais, mesmo não tendo sido completadas as convenções partidárias, o quadro eleitoral está praticamente definido, permitindo o desenho dos cenários alternativos a partir das dinâmicas mais prováveis.
Cenário I - O mesmo de sempre
Não haverá grandes mudanças nas trajetórias habituais, devendo seguir o que mostram as prévias eleitorais: a disputa entre Bruno Covas e Celso Russomanno. A novidade poderia ser Russomanno no segundo turno, ao contrário das duas últimas eleições, em que ele liderou as prévias, mas se desgastou no final.
Celso Russomanno, mais uma vez, adotou uma estratégia equivocada. Buscou o apoio de Bolsonaro, que não o ungiu como o seu candidato em São Paulo, mas impregnou a marca de bolsonarista em Russomanno. Não lhe agregará mais votos do que do seu eleitorado próprio, que em grande parte é o mesmo do bolsonarismo. Mas esse estará fragmentado em diversos candidatos, cada qual se declarando mais bolsonarista que os demais colegas.
No segundo turno os 70% de antibolsonaristas se unirão contra ele e darão vitória à reeleição de Bruno Covas.
Caso Russomanno, como das outras vezes, não chegue ao segundo turno, o seu lugar é disputado por três candidatos: dois com a marca bolsonarista (Paulo Skaf e Márcio França) e Marta Suplicy, cujo eleitorado próprio é reduzido. Para vencer Covas, teria que reunir tanto o petismo como o bolsonarismo, uma união pouco provável.
Cenário II - Novas ondas
Em 2018 a onda bolsonarista rompeu os paradigmas tradicionais, mas perdeu força, ao longo do primeiro e meio ano do mandato, com várias defecções, mantendo, porém, um público e eleitorado fiel, sectário e "seitista", mas que seria da ordem de 25% do eleitorado. Esses seguidores atenderão às determinações do líder mor, desde que ele emita a determinação, do tipo "votem em fulano(a) porque ele(a) me representa nas eleições de 2020”. Todos os demais, fora o escolhido ou a escolhida, sairão da disputa. Porém Jair Bolsonaro não se mostra disposto a escolher o seu representante, deixando que dezenas de bolsonaristas de raiz, neobolsonaristas e até ex-bolsonaristas disputem a designação. Parafraseando Lula, o tsunami bolsonarista de 2018 chega em 2020, como uma marolinha: fragmentada, com pouca força, sem uma liderança expressa para uni-la.
Novas ondas estão se formando, podendo ganhar força até novembro: a onda da renovação ética e a da retomada verde.
A renovação ética é um movimento que já conta com um partido (o Novo) e movimentos de apoio à renovação (Renova BR, Acredite, e outros) que treinam e financiam candidatos com novas posições e propostas, sempre contra a velha política corrupta, corporativa e patrimonialista. Elegerá vários candidatos a vereador, mas ainda não tem força suficiente para a eleição do principal candidato renovador, Felipe Sabará, pelo Novo. Deverá herdar o eleitorado "morista" de raiz, isto é, os que sempre apoiaram Sérgio Moro e têm esperanças que ele se candidate à Presidência da República em 2022. Muitos bolsonaristas se tornaram moristas, mas o abandonaram quando ele se demitiu do Ministério, preferindo permanecer com Bolsonaro. Porém, dificilmente, Sérgio Moro se envolverá diretamente nas eleições de São Paulo em 2020.
A outra onda é o da chamada retomada verde, comandada pela classe média, que tem a esperança de que, vencida a pandemia, a retomada da economia, assim como das demais atividades, respeitará mais os requisitos ambientais, principalmente com relação à ampliação de áreas verdes e às restrições ao uso do carro. Nenhum dos candidatos assumiu a liderança do movimento, mas muitos aderiram ao mesmo, inclusive o atual prefeito, Bruno Covas.
Além de ainda ser uma onda em formação, a fragmentação das lideranças a torna ainda fraca como fator eleitoral. No entanto, algum acidente ambiental inusitado e inesperado poderá fortalecer a onda, transformando-a num "tsunami". Essas condições de inusitado e inesperado tornam a sua ocorrência imprevisível. Assim como quem seria favorecido?
Cenário III - Rebelião da periferia
A tradicional disputa em São Paulo, entre PSDB e PT, envolvia também uma disputa entre centro x periferia e ricos x pobres. Fernando Haddad, embora petista de carteirinha, não representou o eleitorado da periferia e também dos pobres. Ele é um típico representante da classe média, que conhece a periferia de São Paulo pelos mapas e fotos, com pouco conhecimento real. Com isso uma grande parte dos eleitores petistas ficou órfã. A derrota de Haddad para Bolsonaro piorou mais ainda o quadro.
O PT busca recuperar esse eleitorado, com um representante típico da periferia, tradicional morador da periferia na Zona Sul da cidade e com base eleitoral nessa região. Mas ainda não conseguiu ganhar a confiança dos eleitores petistas ou dos ex-petistas desiludidos. Agora com o auxílio emergencial, as dúvidas desses eleitores aumentaram: a alguns parece que Bolsonaro é o novo Lula, o "pai dos pobres".
O potencial desse eleitorado é enorme e Lula teve capacidade de liderar os seus pleitos. Jilmar Tato não é Lula. Guilherme Boulos é um líder mais ativo e carismático, mas não tem autenticidade. Assumiu a liderança do movimento dos Sem Teto, por opção ideológica, de "cima para baixo" e não pela vivência real da realidade, o que ainda está em aprendizado.
Mas, como no caso anterior, um fato inusitado e inesperado pode fazer emergir esse potencial, com toda força eleitoral.
Perspectivas
Embora haja um grande potencial para substanciais mudanças no quadro eleitoral essas dependem do imprevisível. Se o fato inusitado não ocorrer, as eleições caminharão para o "mais do mesmo" com Bruno Covas disputando com um segundo, em condições mais favoráveis, qualquer que seja o adversário.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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