Quem andou por pontos icônicos na cidade de São Paulo, como a Avenida Paulista e o Parque do Ibirapuera, pode ter se deparado com uma situação curiosa: adultos se divertindo com diversas patinetes elétricas azuis. Essas ações (e outras tantas que virão neste mês) fazem parte da estratégia de lançamento da Ride, uma startup brasileira que aposta na mobilidade urbana pelos e-scooters, como são conhecidas as patinetes elétricas lá fora.
Elas são tão cheias de hype quanto de problemas, inclusive em sua terra natal. Esse histórico gera dúvidas sobre se o modelo pode funcionar nas metrópoles brasileiras. Mas os empreendedores Marcelo Loureiro, Guilherme Freire e Paula Nader são otimistas e estratégicos – além de confiar em uma boa relação dos brasileiros com a marca, os erros das americanas serviram de lição para tentar prever, o máximo possível, o caos.
Loureiro apostou no diferencial confortável e lúdico das patinetes elétricas, o que se reflete na chance de cobrar mais (e obter uma margem de lucro mais saudável). O maior custo logístico – as patinetes precisam ser recarregadas todos os dias – pode ser embutido no preço. “O compartilhamento de bikes é um negócio difícil de parar em pé, o que se percebe em São Paulo. As bicicletas só existem por meio de um patrocinador forte ou vendendo a informação dos clientes”, defende.
Como a concorrência californiana não estava para brincadeira, o empreendedor voltou às origens. Uniu-se aos sócios Guilherme Freire, da empresa de óculos Livo, e Paula Nader, especialista em marketing, para montar uma versão brasileira do compartilhamento de e-scooters. O projeto começou em dezembro de 2017 e, agora, está em pré-lançamento. O aplicativo está só esperando a aprovação nas lojas Android e iOS para operar.
O caos à espreita
Os investimentos angariados pelas startups de e-scooters são de encher os olhos – mas assim também são seus problemas. Os patinetes elétricos não estão em seu melhor momento em sua terra natal.
Em São Francisco, turistas e startupeiros distraídos pilotam as e-scooters pelas calçadas sem respeitar as leis de trânsito e atrapalham as pessoas ao redor. Várias patinetes foram empilhadas uma em cima das outras, abandonadas perto de rios e em árvores, ou quebradas. Por alguns dias, as patinetes elétricas foram proibidas de circular na região.
O histórico da Bird e da Lime joga a favor da brasileira Ride. Conhecendo os problemas que suas inspirações enfrentarão, a startup de Loureiro quer agradar tanto usuários quanto moradores e administrações públicas. Primeiro, evitará o acúmulo de e-scooters e começará com apenas 50 patinetes elétricas. Elas estarão em regiões mais amigáveis ao uso, como a Avenida Faria Lima.
Mas como evitar danos e furtos? Umas mudança significativa em relação ao modelo americano foi começar com as “docas”, assim como se vê hoje no compartilhamento de bicicletas em São Paulo. A Ride terá estações patrocinadas para usuários pegarem e deixarem as patinetes elétricas, das 10h às 17h horas. Depois, o horário será estendido para 7h às 21h.
Assim como acontece nas startups americanas, as patinetes elétricas são recolhidas para serem recarregadas e limpas – o que, como bônus, impede possíveis vandalismos e furtos durante a madrugada. “A gente aposta que é um serviço complementar e muito mais divertido. É assim que vamos ganhar dinheiro: uma boa comunicação e uma boa prestação de serviço ao usuário final, com foco em recorrência”, afirma Nader, do marketing. Para toda essa diversão não virar o caos visto em São Francisco, é preciso ter muito controle – e uma dose de confiança na capacidade dos brasileiros em segurar as brincadeiras na internet.
Fonte: Exame, 09/08/2018