Por Jorge Hori* - A Prefeitura de São Paulo lançou proposta de plano para adensar a ocupação do centro expandido da cidade, atraindo 140 mil moradores para a área mediante mecanismos da legislação urbana. Principalmente a outorga não onerosa do direito de construção.
Parte da visão tecnocrática de um desequilíbrio estatístico. Há o dobro de empregos do que moradores nessa área. O que é fato, mas as estatísticas não têm autonomia. São apenas resultados numéricos de processos reais que decorrem de comportamentos humanos, diante de circunstâncias físicas e outras.
Uma suposição é que há carência de moradias no centro, o que não corresponde à realidade. Há um grande volume de imóveis desocupados. É preciso entender porque, existindo uma oferta quantitativa e supostamente uma demanda, não se encontram. A razão principal seria de natureza qualitativa. Os imóveis disponíveis não atendem às aspirações dos demandantes.
O que coloca preliminarmente a seguinte opção: o melhor é construir novas edificações, mais adequadas à demanda, ou promover a requalificação dos imóveis desocupados, para adequá-los à demanda?
A proposta da Prefeitura contempla ainda políticas em relação aos estacionamentos, conforme a notícia do Estadão (que reproduzimos nesta edição):
"No entorno de polos comerciais (como Santa Ifigênia e 25 de Março), a Prefeitura estuda limitar a oferta de vagas de estacionamento, o que pode resultar na criação de bolsões com edifícios-garagem e a redução de vagas junto ao meio-fio. Dentro disso, a ideia também é ampliar as áreas de desembarque e carga e descarga".
Mas, antes de analisar a questão específica dos estacionamentos, cabe avaliar a proposta geral de atrair mais moradores. Essa não pode ser meramente quantitativa. Precisa ser qualificada.
A visão social é de gerar condições viáveis para a moradia popular. As experiências mostram que ainda não se encontraram soluções sustentáveis.
A de mercado é gerar um conjunto de atributos que ofereçam atratividade à classe média, principalmente para a classe média alta, formada por executivos das empresas, ou por pequenos e médios empreendedores.
Uma das condições é a diversidade de oferta de restaurantes de bom padrão, reconhecidos pela mídia especializada.
É um dos principais indicadores de revitalização (ou não) da área central. A evolução atual é favorável, com uma oferta crescente, mas ainda insuficiente. Restaurantes, no centro, com a presença de "chefs", alguns de renome, estão sempre cheios, indicando a existência de demanda reprimida. Vem gerando oportunidades para abertura de novos, num processo ainda reticente: trata-se de moda, com uma bolha que vai estourar logo adiante, ou uma evolução sustentável?
E como isso irá impactar o negócio de estacionamentos?
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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