Por Jorge Hori* - Mudanças climáticas nos céus de Bolsonaro poderão precipitar tempestades indesejadas.
As perspectivas com a confirmação da sua eleição eram bastante favoráveis para a economia, com o anúncio de medidas de austeridade, controle do deficit fiscal e perspectivas de aprovação da reforma previdenciária, ainda neste ano ou assegurada no início de 2019.
Melhoria de ânimo do consumidor nacional, ampliando as compras de final de ano, controle da inflação, com estabilidade dos juros básicos, aumento dos investimentos privados, melhorando o emprego e, principalmente, uma safra recorde de grãos, começando a ser colhida ainda em dezembro, mas com o pico em janeiro e fevereiro, indicavam um começo de ano promissor, muito melhor do que todos os demais dos últimos anos.
Mas a excessiva admiração de Bolsonaro por Trump pode transformar o que seria bom para o Brasil num grande pesadelo.
A "guerra comercial" desencadeada por Trump contra a China, para a proteção do mercado interno norte-americano - o maior do mundo -, trouxe vantagens momentâneas para o Brasil, com melhores perspectivas ainda de curto prazo.
Toda safra de grãos seria consumida, com geração de renda cambial e nacional, melhorando a economia - como um todo - e as condições de vida da população brasileira. Os grãos brasileiros substituiriam a parte da soja norte-americana que os chineses deixariam de importar, em retaliação às restrições norte-americanas aos seus produtos. O que para Trump e para os norte-americanos é ruim.
Um grande desejo de Trump é que o Brasil entre como substituto no mercado chinês, sabendo que eles não podem deixar de importar grãos para alimentar a sua imensa população.
Se Bolsonaro se alinhar a Trump, com restrições comerciais e financeiras nas relações com a China, essa reduzirá as suas compras, buscando alternativas na Argentina e no Paraguai. Como a produção nesses países é muito menor que a brasileira e norte-americana, a China não irá reduzir tão drasticamente as suas compras dessa última. E não aumentará as compras do Brasil.
A supersafra que seria uma grande vantagem irá se transformar num grande estoque, que pressionará o Governo para subsidiar a sua manutenção. Em vez de produzir renda e receita pública, irá consumir renda e receita, agravando os problemas do deficit fiscal. O que terá repercussões negativas para o conjunto da economia.
A médio prazo a crise poderá ser positiva, pela necessidade de ampliar e diversificar os mercados externos para os seus grãos e derivados, mas os problemas de curto prazo terão influência política, altamente negativa, com reflexos na economia.
Não há dúvidas de que a crise atual do Brasil é consequência dos erros da política econômica do PT. Mas uma avaliação do passado não resolve crises. Só explica. O que se deve evitar são novos erros.
O Brasil, com o PT, continuado com Temer, tornou-se amplamente dependente no seu comércio exterior de commodities e da China. Foi um grande erro, mas querer corrigir o erro de supetão e no momento inoportuno será um erro ainda maior.
A certeza de uma forte recuperação da economia brasileira no primeiro trimestre de 2019 voltou a ser substituída pela incerteza e o céu de brigadeiro dos primeiros tempos de Bolsonaro está virando.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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