Luiz Alberto Marinho* - A transformação dos shoppings está acontecendo em toda parte. Não apenas no Brasil, mas também em diversos países, shopping centers estão evoluindo rapidamente, deixando de ser simplesmente centros de compras para assumir o papel de destino de entretenimento, socialização, conveniência e descobertas.
Na Inglaterra, por exemplo, as respostas dos principais players aos desafios propostos pelos consumidores e varejistas estão sendo bem parecidas com as que vemos por aqui. As ações envolvem o adensamento da área primária com projetos residenciais, diversificação do mix por meio de serviços relacionados com saúde e bem-estar, espaços de coworking e, principalmente, mais e diversificadas opções de alimentação e entretenimento.
Para dar uma ideia mais precisa das mudanças no comportamento dos ingleses, basta dizer que lá os gastos em vestuário caíram 7%, enquanto os dispêndios com entretenimento subiam 38%, entre junho de 2021 e junho de 2022. Os dados são da CACI, empresa britânica de inteligência de mercado.
Para aproveitar a onda, centros comerciais como o Bluewater, que fica na cidade inglesa de Kent, estão investindo forte em diversão. O destaque vai para um parque que oferece três experiências ao ar livre, incluindo essa espécie de tirolesa que permite que as pessoas voem na horizontal, como o super-homem.
Lembra da frase “food is the new fashion” (comida é a nova moda)? Talvez ela tenha que ser atualizada para “food and fun are the new fashion” (comida e diversão são a nova moda).
Outro movimento que promete concentrar atenções e recursos das empresas de shopping centers nos próximos anos será a expansão de projetos de uso misto. Não que isso seja uma novidade. Mas as apostam estão mais altas. Nos Estados Unidos, a Simon, que é a maior empresa de centros comerciais do país, comprou em outubro 50% da Jamestown, uma empresa desenvolvedora de projetos de uso misto. De acordo com David Simon, CEO da companhia, a ideia é aproveitar a expertise da Jamestown para acelerar projetos de densificação dos empreendimentos da Simon, por meio de residências e torres comerciais.
Investimentos em condomínios, complexos de uso misto, operações de entretenimento e serviços, entre outros, são fundamentais para viabilizar a evolução do modelo de negócio dos shopping centers. Porque ajudam a gerar fluxo recorrente e qualificado para os centros comerciais, permitindo que oportunidades de negócios sejam criadas para lojistas e anunciantes. Essa visão começa a ganhar força nas principais redes de centros comerciais, ao redor do planeta.
Não foi à toa que Jakub Skwarlo, diretor de Operacões para o Reino Unido da Unibail-Rodamco-Westfield, afirmou em entrevista recente para o site Property Week: “em cinco anos não vamos mais chamar nossos empreendimentos de shopping centers. Seremos o melhor parceiro para marcas que queiram se conectar com pessoas, por meio de experiências compartilhadas. Isso será chave para permanecermos relevantes”.
É isso aí. Dificilmente o nome “shopping center” vai desaparecer. Mas o significado disso já não é o mesmo, faz tempo.
*Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.