Nos últimos anos, a cidade de São Paulo passou por uma aceleração no número de projetos de arranha-céus. O município é hoje o segundo com os prédios mais altos do País, ficando apenas atrás de Balneário Camboriú. Os prédios mais altos da cidade, antes comerciais, são hoje, na maioria, residenciais ou mistos, graças a mudanças de legislação que permitiram tais construções em algumas áreas.
Atualmente, a capital paulista ocupa a 76.ª posição no ranking do Skyscraper Center, site do Council on Tall Buildings and Urban Habitat, que monitora os arranha-céus nas maiores cidades do mundo. Com a chegada de novos projetos, SP pode avançar algumas posições nesse ranking.
O edifício mais alto da cidade, hoje em obras, é o corporativo chamado Alto das Nações, da WTorre. Quando concluído, terá 219 metros de altura. A título de comparação, o prédio mais alto já pronto em SP é o Platina 220, no Tatuapé, com 171,7 m, uma construção da Porte Engenharia. O edifício da WTorre fica na Chácara Santo Antônio, no mesmo terreno onde o Carrefour instalou seu primeiro hipermercados no País, em 1975.
O complexo corporativo contará com um centro comercial com lojas e um hipermercado Carrefour, bem como unidades residenciais e teatro. Um dos diferenciais do edifício é o pé-direito duplo. Os andares, que serão 37, terão 4,7 metros de altura, algo incomum nas construções brasileiras e que impôs desafios construtivos à WTorre, que precisou importar materiais.
O prédio também terá um mirante aberto à visitação. “Temos uma expectativa alta para o fluxo de pessoas que irão buscar o mirante como ponto turístico, por conta da vista única e livre a mais de 200 metros de altura. Temos uma perspectiva que a visitação será uma rota obrigatória para quem for visitar a cidade de São Paulo”, diz o CEO da WTorre, Marco Siqueira.
Entre os prédios residenciais, a Cyrela e a Benx são as construtoras que mais lançaram empreendimentos entre os mais altos da cidade. A região que mais tem recebido projetos residenciais de arranha-céus é a Av. Rebouças, cuja lei de zoneamento foi revisada para receber projetos desse porte.
APROVEITAMENTO VERTICAL. A revisão das regras municipais desencadeou uma corrida por arranha-céus, que ocorre por diferentes motivos. Do ponto de vista econômico, as incorporadoras têm dificuldade de comprar terrenos em áreas nobres, exigindo a compra de dezenas de casas e comércios ou prédios inteiros. Por isso, o aproveitamento vertical máximo se tornou uma meta das empresas do ramo imobiliário.
Outro ponto vem do lado da demanda. Como em outros países, como Estados Unidos, Cingapura, Japão e Emirados Árabes Unidos, o consumidor de alta renda passou a valorizar mais a vista que tem da janela de seus apartamentos, sobretudo depois da pandemia. Como a cidade tem a maioria dos prédios com 60 metros, os arranha-céus aparecem como opções de ter a vista livre nos últimos andares, pelos quais as incorporadoras cobram de 5% a 10% mais caro do que em outros pavimentos.
Fundador do Urbem (Instituto de Urbanismo e Estudos para a Metrópole), Philip Yang diz que São Paulo ainda precisa evoluir no quesito densidade populacional. Segundo ele, a cidade tem menos de 100 habitantes por hectare. Em Paris, diz, que tem grande parte dos prédios com até seis andares, a densidade é de cerca de 200. Já nas megacidades asiáticas, o número chega a 400.
“Paris é um caso parecido com Barcelona. São cidades muito densas, que têm construções predominantemente de seis andares, e que aproveitam a totalidade da quadra, e não só do lote. Não têm recuo frontal ou lateral”, diz. (Imagem: arquivo CNB)
O Estado de S. Paulo - Economia & Negócios - SP - 26/04/2025