Algum tempo depois de comprar um Tesla Model 3 neste verão, Vince Patton viu um vídeo no YouTube destacando uma função que o surpreendeu: três videogames que podem ser jogados na grande tela montada na frente do painel do carro — enquanto se dirige.
"Eu pensei que certamente aquilo não podia ser verdade", disse Patton, um aposentado que vive em Lake Oswego, no Oregon. Mas em um estacionamento ele experimentou e conseguiu jogar paciência num Model 3 em movimento. "Eu só fiz isso durante cinco segundos, e então desliguei", disse ele. "Estou surpreso. Para mim, parece simplesmente perigoso."
A fábrica de automóveis adicionou os games em uma atualização de software "over-the-air" que foi enviada para a maioria de seus carros neste verão. Eles podem ser jogados pelo motorista ou por um passageiro à vista do motorista, o que levanta novas perguntas sobre se a Tesla está comprometendo a segurança na corrida para acrescentar novas tecnologias e funções a seus carros.
"É uma grande preocupação se ele é jogado à vista do condutor, é claro", disse Jonathan Adkins, diretor-executivo da Associação de Governadores para Segurança nas Estradas, que coordena os esforços estaduais para promover a condução segura.
O sistema Autopilot da Tesla, que pode conduzir, acelerar e frear um carro sozinho, enfrenta há vários anos críticas de especialistas em segurança porque permite que os motoristas tirem as mãos do volante por períodos prolongados, apesar de eles não deverem fazer isso. E não tem um meio eficaz de garantir que os motoristas fiquem de olho na pista.
A combinação de condução sem usar as mãos e motoristas desviando o olhar da estrada foi relacionada a pelo menos 12 mortes no trânsito desde 2016 em carros Tesla que operavam no modo Autopilot, segundo a Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário. Adkins disse que o acréscimo de videogames "exige que a agência ofereça orientação e regulamentação".
A Tesla e seu executivo-chefe, Elon Musk, não responderam a vários e-mails perguntando sobre os novos videogames e se eles podem ameaçar a segurança.
A condução desatenta é uma das principais causas do número crescente de mortes no trânsito nos Estados Unidos. No primeiro semestre de 2021, 20.160 pessoas morreram em acidentes de trânsito, segundo estimativas do Departamento dos Transportes. Isso foi 18,4% a mais que no primeiro semestre de 2020, e o maior total desde 2006.
A desatenção dos motoristas é citada oficialmente como a causa de cerca de 10% das mortes no trânsito, disse Steve Kiefer, um alto executivo da General Motors que também chefia uma fundação dedicada a combater a direção desatenta. Mas ele e outros especialistas em segurança acreditam que o número atual seja muito maior, porque, segundo eles, as investigações de acidentes muitas vezes desprezam a distração enquanto citam outras causas, como condução negligente. "Eu acho que o número é mais próximo de 50%", disse Kiefer. A Fundação Kiefer é dedicada ao filho dele, Mitchel, que foi morto aos 18 anos em 2016 quando um motorista distraído deu marcha a ré numa rodovia em Michigan.
A condução desatenta deriva de atividades que tiram as mãos do motorista do volante, afastam seu olhar da estrada ou desviam sua atenção da tarefa de conduzir. Está muitas vezes ligada ao uso de smartphones, como enviar mensagens enquanto se dirige, mas os motoristas às vezes leem livros ou aplicam maquiagem. Alguns estados proíbem o uso manual de telefones celulares enquanto se dirige. Os fabricantes de carros, a Apple e a Google desenvolveram software para carros para facilitar o uso de comandos de voz para enviar mensagens de texto e fazer ligações, mantendo as mãos livres para dirigir.
Os fabricantes também adicionaram mecanismos para reduzir a potencial distração das telas no banco dianteiro. A Stellantis —antiga Fiat Chrysler— oferece um sistema de entretenimento que pode tocar DVDs numa tela dianteira, mas que escurece se o carro for movimentado. Muitos sistemas de navegação não permitem que se digitem endereços manualmente enquanto o carro está em movimento. Os veículos Mazda proíbem a maior parte do uso da tela do painel quando em movimento.
A agência de segurança nas estradas dos EUA (NHTSA) emitiu diretrizes aos fabricantes para que qualquer dispositivo de entretenimento nos veículos seja projetado de modo que o motorista não possa usá-lo "para realizar tarefas secundárias que inerentemente causam distração enquanto dirigem". Até este verão, os videogames no pacote de software da Tesla — mais de uma dúzia — só podiam ser jogados quando o carro estava em modo "park" (estacionado). Isso mudou quando a atualização 2021.12.25.6 foi enviada para os veículos Tesla. Ela acrescentou paciência; um jogo de aviões de caça, Sky Force Reloaded; e The Battle of Polytopia: Moonrise, um jogo estratégico de conquista. Patton disse que teve acesso aos três com seu carro na função "drive" (em movimento), e que ele enviou uma queixa à agência nacional de segurança pelo site.
Em uma advertência que aparece antes do início do jogo, a Tesla indica estar ciente de que a paciência pode ser jogada com o carro em movimento: "Paciência é um jogo para todo mundo, mas jogá-lo com o carro em movimento é só para os passageiros". Um botão pede confirmação de que o jogador é um passageiro, mas o motorista pode simplesmente apertar o botão e jogar.
Em um segundo vídeo no YouTube, outro proprietário de Tesla mostra que o jogo pode ser usado com o carro em movimento. "Isso é muito perigoso", disse o usuário. "Tenho certeza de que alguém vai ligar o Autopilot e jogar paciência. Tome nota disso, Tesla." (Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves)
Fonte: Folha Mercado, 10/12/2021
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