Antes que terminasse o primeiro semestre do seu governo, Jair Bolsonaro foi obrigado a ganhar um presente que não queria.
Enquanto o ministro de Relações Exteriores relatava ao seu presidente, com imensa emoção, uma grande vitória, ápice para a sua carreira, o do Brasil, resignado com a aprovação de um acordo ao qual sempre foi contrário, resolveu anunciar virtudes que levarão muito tempo para se concretizar.
Mesmo contra a vontade do presidente, que preferia ficar aliado a Trump, não assinando o Acordo do Clima, o Brasil firmou o acordo do Mercosul com a União Europeia, aceitando as imposições das lideranças europeias.
O fato adjetivo que mais deve ter influenciado a decisão foi a pressão (ou solicitação) de Macri, para o qual o acordo seria um grande trunfo eleitoral.
Os detalhes ainda vão ser divulgados, sendo que para o setor de estacionamentos pagos, que não é um importante exportador de serviços, não haverá grande impacto direto.
O principal beneficiário será o agronegócio exportador, o que levará ao desenvolvimento de cidades associadas àquele. Haverá aumento da frota de automóveis e necessidade de mais estacionamentos, nessas cidades, não obstante o ingresso de aplicativos.
Os planos estratégicos das empresas deverão considerar adequadamente essas oportunidades e também as ameaças.
Já a maior abertura para as tecnologias e equipamentos da União Europeia terá impacto maior.
Não só pelo ganho de competitividade desses, em relação aos norte-americanos e aos asiáticos, mas pelas ações comerciais das empresas fornecedoras, para ampliar o mercado.
O interesse será pelas garagens verticais, com os elevadores associados à automação.
As empresas de tecnologia da União Europeia ainda são líderes em automação industrial e irão trabalhar para se firmar no mercado brasileiro, antes que o Brasil feche outros acordos comerciais.
O impacto mais importante, no entanto, é de caráter macroeconômico e cultural.
A sociedade brasileira ainda está dominada pelo modelo econômico voltado para o mercado interno, rezando para que uma reforma previdenciária reanime o doente debilitado. Se a dose não for suficiente, a esperança é que uma reforma tributária o tire da cama. Nada disso vai acontecer. A economia brasileira não vai voltar a se animar apenas com as forças do seu mercado interno.
Precisará de um reforço de renda e capitais decorrentes de um substancial aumento nas exportações, acompanhadas por um aumento de importações.
A forma com que a mídia divulgou o acordo, enfatizando o aumento das exportações, ajudará a perceber que o caminho do Brasil está na saída.
Na saída dos seus produtos pelos portos em direção ao mundo.
Não basta querer. É preciso ser competitivo. Ainda que não de imediato, para quando as medidas acordadas entrem em vigor.
Para isso é preciso investir já em modernização do parque de equipamentos, em tecnologia, em inovação. Esses investimentos para a competitividade poderão ser o motor de partida para a reanimação da economia brasileira.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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