Na praça Callao, espécie de Times Square no centro da capital espanhola, um anúncio “intruso” disputa espaço nos imensos painéis digitais com propagandas da nova turnê do cantor Alejandro Sanz e de gadgets eletrônicos.
É a campanha de divulgação do plano Madri Central, que restringe fortemente o acesso de carros a um perímetro de quase 5 km² naquela região.
Em vigor desde 30 de novembro, a iniciativa pretende reduzir em 40% as emissões de dióxido de nitrogênio na área delimitada e coloca a cidade na linha de frente das metrópoles europeias que adotaram medidas de proteção ambiental.
Em 2017, Paris baniu os veículos a diesel registrados de1997 a2000. No ano anterior, a prefeita havia transformado uma artéria de3,3 kmà beira do Sena em zona de pedestres.
Londres, Estocolmo e Milão criaram pedágios urbanos, enquanto Berlim demarcou há dez anos um setor de circulação restrita nos moldes do madrilenho, só que mais severo.
Na capital espanhola, apenas moradores registrados na prefeitura, pessoas com mobilidade reduzida, viaturas policiais e serviços de emergência terão acesso livre ao retângulo de concreto que inclui os museus Reina Sofía e Thyssen, a praça Puerta del Sol e a Gran Vía, versão local da Broadway.
Para os outros, a permissão de entrada e permanência se dará segundo um sistema de classificação ambiental de veículos, assinalada por adesivos.
Quem tiver carro elétrico ganha salvo-conduto. Automóveis híbridos ou a gás podem adentrar o perímetro e estacionar por até duas horas.
Carros movidos a gasolina (a “linha de corte” de registro é o ano 2000) e diesel (2006) terão permissão para acessar a área exclusivamente a fim de se dirigir a estacionamentos públicos ou garagens.
Os que não ultrapassarem o sarrafo “etário” ficarão sem etiqueta e estarão banidos.
Comerciantes são os principais críticos do “retângulo verde”, por temer o sumiço da clientela e dificuldades logísticas com fornecedores.
A prefeitura contra-argumenta recorrendo a estatísticas de deslocamentos em direção ao centro. Segundo a administração, 1,2 milhão de percursos diários com esse destino são feitos em transporte público, 550 mil a pé e apenas 230 mil de carro —a ideia é reduzir o último montante em cerca de 30%.
Empresas de transporte, de seu lado, dizem não ter recursos para substituir as frotas por modelos mais limpos e preveem falências.
Por ora, os motoristas infratores recebem cartas de apresentação do plano. Quando o monitoramento por câmeras deixar a fase piloto, no primeiro trimestre de 2019, receberão uma sanção de 45 euros (R$ 200), que dobra se não for paga em até três semanas.
Fonte: Folha de S. Paulo, janeiro de 2019