A Prefeitura de São Paulo pretende construir 31 garagens verticais próximas às estações do metrô (notícia transcrita do Jornal da Tarde na 81ª edição do Parking News).
Construir garagens junto às estações do metrô sempre foi uma proposta de urbanistas e transporteiros, até há pouco, não aceita pelos metroviários.
As objeções eram de duas naturezas: a primeira de que a Cia. do Metrô era uma empresa de transporte metroviário e não poderia se desviar das suas atribuições, não lhe cabendo investir em outras atividades, mesmo que correlatas. Os metroviários resistiram durante muito tempo à ideia (ainda que prevista nos projetos) de transformar as estações em shopping centers, com lojas dentro delas.
A segunda objeção era de natureza financeira: todos os (considerados poucos) recursos tinham de ser aplicados no sistema metroviário (túneis, linhas, estações, controle, trens etc.), não podendo haver desvio para a construção de "penduricalhos", como um estacionamento anexo.
Apenas em dois casos foram construídos estacionamentos anexos: um estacionamento vertical sobre a estação Santa Cruz, e um estacionamento subterrâneo junto à Estação Ana Rosa.
Estacionamento anexo é aquele em que há acessos diretos entre a garagem e a estação. O que é diferente de estacionamento próximo, no qual se tem de sair de um para ir ao outro.
A percepção de que as estações de metrô eram favoráveis ao comércio, em função do fluxo de pessoas, ocorreu com o sucesso do Shopping Tatuapé, construído ao lado da estação, porém com ligações diretas. Isso levou à duplicação das áreas de lojas no Tatuapé, com a construção de um novo edifício, à integração na estação Itaquera e à transformação do estacionamento de integração da Santa Cruz em shopping center. Manteve-se o estacionamento que, segundo dados da Cia. do Metrô, ainda tem 1.057 vagas e é de difícil acesso, com rampas muito acentuadas.
Itaquera seria o novo paradigma, associando as estações (no caso do metrô e do trem metropolitano) com um shopping center e um amplo estacionamento (2.115 vagas). Até 6 horas o valor é de R$ 3,00 e acima de 6 horas, R$ 6,00. Com uma ida e volta do metrô, o custo total seria de R$ 10,00.
Esse modelo deverá ser implantado na Vila Sônia, ponta da nova linha. Poderá ser associado às necessidades de estacionamento para o Estádio do Morumbi, na Copa de 2014.
A Cia. do Metrô tem um plano para implantação de diversos estacionamentos de transferência, tendo iniciado com uma garagem junto à estação Imigrantes, onde o usuário paga R$ 8,15 por doze horas (no site da Cia. do Metrô, consta o valor de R$ 8,45), com direito a duas viagens de metrô. O valor adicional seria de R$ 3,05, o que é muito atrativo. A sua capacidade, no entanto, é diminuta (117 vagas).
Se o usuário preferir ir de carro até o seu destino na região da Paulista (servida diretamente pela linha), pagará no mínimo R$ 7,00 a primeira hora, podendo alcançar R$ 10,00. Se o destino for um hotel de luxo, poderá chegar a R$ 15,00 a primeira hora. Uma permanência o dia todo custaria entre R$ 20,00 e R$ 30,00. Como mensalista poderia ter um custo menor, mas não abaixo da média de R$ 10,00 por dia (R$ 210,00 por mês). Fora os custos da movimentação (combustível e desgaste) e a irritação no trânsito.
No estacionamento da Ana Rosa, a primeira hora custa R$ 3,00 e uma diária de 12 horas, R$ 15,00. Com o valor das passagens custaria R$ 20,00, contra os R$ 8,15 do estacionamento da Imigrantes.
Na outra ponta, um terreno que serve de estacionamento, próximo à estação Vila Madalena, custaria R$ 3,00 e a diária de 12 horas, R$ 10,00 (os dados são da Cia. do Metrô, mas devem estar desatualizados - não consegui a confirmação por telefone).
Segundo matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo do dia 13 de abril de 2009, o estacionamento da Imigrantes é um sucesso, recebendo diariamente mais que a capacidade nominal, com os veículos sendo colocados por manobristas. A média diária seria de 260 veículos, com rotatividade pouco acima de 2.
Até um volume de 2,5 vezes a oferta fixa de vagas, o concessionário operador fica com a totalidade da receita. Acima desse volume, ou seja, 292 vagas, a Cia. do Metrô receberia 60%, isto é, R$ 4,89, abaixo ainda da tarifa (R$ 5,10, considerando duas viagens). O valor estaria equilibrado a uma tarifa de R$ 8,45.
Há uma diferença a considerar que a matéria do jornal não esclarece: uma coisa seria o estoque máximo de carros, na hora do pico (seria de 230, quase o dobro das vagas oficiais), outra é o total de veículos que ingressam por dia no estacionamento. Que seria de 260, gerando um faturamento diário de R$ 2.119,00. Como funciona diariamente, com queda de volume nos finais de semana, o faturamento médio da operadora seria da ordem de R$ 50.000,00 mensais. E a receita diária média por vaga, da ordem de R$ 18,00.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.