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Exclusão dos carros e degradação econômica

 

Por Jorge Hori*

A estratégia da atual gestão da Prefeitura Municipal de São Paulo, associando, de um lado, ideais socializantes e, de outro lado, ilusões ambientalistas, poderá levar o centro de São Paulo a uma degradação econômica, com maior igualdade social, dentro do padrão da classe média emergente: uma área "livre de carros" e "livre da riqueza".

A estratégia da Prefeitura Municipal para atender às necessidades de vagas de estacionamento, implícita no Plano Diretor Estratégico e em suas ações efetivas, é:

- reduzir as vagas nas vias públicas;

- reduzir as vagas em terrenos desocupados;

- reduzir as vagas nas novas edificações;

- promover novas vagas em edifícios-garagens.

Essa estratégia tem por objetivo adensar, mediante verticalização, as novas áreas em torno das estações metroviárias mais distantes do centro, assim como das estações nos trens metropolitanos e das estações dos BRTs.

A nova cidade, na mente dos planejadores urbanos atuais, seria suprida pelos automóveis fora do centro expandido. Nela, as pessoas usariam preferentemente o transporte coletivo, com uma rede mais ampla e conectada, descongestionando as vias públicas da região.

Seria uma cidade mais racional, em que as pessoas poderiam viver melhor e sem tanto stress.

Diante da evolução demográfica, no entanto, uma nova divisão poderá ocorrer, segregando a cidade entre aqueles de maior idade, que ocupariam as áreas mais centrais, e os mais jovens ocupando as novas áreas distantes do centro histórico.

A expectativa dos planejadores, com base em ocorrência em outras grandes cidades, é que jovens descolados, que optem por viver sem carro, ocupem as áreas centrais, aproveitando moradias relativamente mais baratas, e possam morar e trabalhar no centro. Duas situações da realidade econômica podem conspirar contra esse projeto. De um lado, o mercado imobiliário vem promovendo os lançamentos dos microapartamentos, sem vagas, com a proposta de grande valorização.

A atração principal não está nesse novo "modo de viver a cidade", mas que esse promova uma valorização imobiliária que interesse aos investidores.

Essa "bolha imobiliária" já não está enchendo mais, mas o mercado está colocando a responsabilidade na crise geral da economia e do setor imobiliário e não do produto. A questão é que a prometida valorização não está ocorrendo e poderá inibir novos investidores, quando da retomada da economia. Ademais, a mesma crise econômica está atrasando a implantação da rede de transportes coletivos, embora essa esteja, na prática, encobrindo falhas ou erros na gestão desses investimentos. Esse objetivo é contraditório em relação ao segundo.

A segunda situação é se "jovens descolados" vão conseguir trabalho, para alcançar os seus objetivos de carreira ou enriquecimento, ou se serão os adeptos da "vida simples", com pequenos ganhos e pequenas despesas. O efeito dessa opção seria uma economia da pobreza, com um "PIB local" baixo, com pequenos "guetos de riqueza".

Os objetivos socializantes dos partidos de esquerda se realizarão com a ocupação preferencial da classe média emergente, com o centro da cidade com baixa desigualdade de renda. A harmonização ocorrerá dentro da renda média baixa, com a cidade rica migrando para os novos centros, modernos e com elevada demanda de automóveis.

O centro tradicional não vai requerer novas vagas construídas, de um lado porque a demanda será menor e de outro lado porque serão abertas vagas com a ocupação alternativa de lojas e outros espaços que serão liberados pela transferência das atividades econômicas anteriores para outras regiões da cidade.

A grande diferença de São Paulo em relação a cidades como Nova York ou Londres, que conseguiram reter no centro tradicional atividades geradoras de alta renda, é que a capital paulista viu todo o seu centro financeiro migrar para fora do centro. A Bolsa de Valores continua no centro, mas isolada, sem gerar uma área de riqueza junto de si.

A estratégia municipal quer usar a disponibilidade diferenciada de vagas para induzir uma ocupação e uso do solo urbano, mas desconsidera que vagas de estacionamentos não têm demanda primária, porém, influem nas decisões de localização de forma diferenciada.

Para o decisor empresarial que quer instalar um escritório de alto padrão, a existência de vagas é fundamental para ele e para o seu negócio. Se houver limitação de vagas, ele busca outra área com menos restrições. A carência de vagas inibe a decisão principal.

De outro lado, a existência de vagas não promove ou induz a decisão principal. O decisor leva em conta outros fatores, sendo a existência das vagas um fator complementar.

A falta de compreensão desses fatores poderá fazer com que o centro de São Paulo caminhe para um processo sucessivo de degradação econômica, para atender às idiossincrasias socializantes.

 

 

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


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