Para especialista, estrutura e falta de espaços na cidade explicam preços elevados
Além de combustível, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), seguro, manutenção veicular e troca periódica de pneus, outro gasto pesa no orçamento dos motoristas fluminenses: o de estacionamento. Seja em ruas, garagens privadas ou shopping centers, as tarifas variam e são uma reclamação constante de quem tem carro.
Na cidade do Rio, o estacionamento rotativo público cobra R$ 2 por um período de duas horas, valor que sobe para R$ 5 na vizinha Niterói.
A tarifa baixa, porém, esbarra na “briga” por uma vaga. Na capital fluminense, há 29 mil espaços disponíveis, mas em alguns endereços esses acabam não sendo suficientes para a demanda.
Na falta de áreas livres ou pela insegurança de deixar o carro na rua — ainda mais em locais onde não há guardadores credenciados —, motoristas recorrem aos estacionamentos privados, como os edifícios-garagem e os shoppings. Mas a comodidade e a segurança vêm acompanhadas de uma cobrança bem mais alta.
O comerciante Ailton Rodrigues, de 57 anos, diz que se vê obrigado a optar pelos estacionamentos particulares pela falta de rotativos públicos credenciados em São Gonçalo, onde mora:
— Falta investimento para podermos parar na rua com segurança. Nos shoppings acaba sendo um absurdo. A gente vai a um centro comercial, gasta e ainda precisa pagar caro para estacionar.
Para deixar o carro parado por duas horas, os tíquetes em shopping centers do Rio vão de R$ 13,50 a R$ 32 (veja a tabela abaixo). Na maioria dos empreendimentos, há tolerância por alguns minutos e cobrança de R$ 2 a R$ 9 pela fração da hora cheia, mas, em outros, a tarifa é fixa, independentemente do tempo em que o veículo permanece ali.
Infraestrutura impacta preço
Coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), André Braz explica que apesar de a variação de custo não ser muito grande, o nível de preço do serviço é o que pesa no orçamento do motorista. Ele também analisa que fatores como infraestrutura e segurança dos estacionamentos particulares, além da escassez de espaço nas cidades, impactam numa cobrança maior por parte das empresas.
— Pode ser um serviço extremamente caro. Com a valorização, o espaço urbano é cada vez mais disputado. Quando surge a possibilidade de aproveitar uma área como estacionamento, como o metro quadrado é muito valorizado, isso se transfere para o preço da tarifa — diz ele: — Cidades como o Rio, que são grandes metrópoles, mas têm um espaço geográfico limitado, precisam aproveitar mais o uso do transporte público.
O EXTRA buscou o Sindicato das Atividades de Garagens, Estacionamentos e Serviços do Estado do Rio (SindePark Rio), mas não obteve retorno.
A Prefeitura de São Gonçalo afirmou em nota que realiza estudos para implantação de um sistema de estacionamento rotativo na cidade. “O objetivo é organizar e otimizar a oferta de vagas, em especial nas áreas de maior movimento, com concentração de comércios, garantindo aos motoristas um atendimento de qualidade, seguro e a custo compatível com a realidade do município”, informou.
O RioGaleão informou que o estacionamento do aeroporto, operado pela Estapar, “foi completamente renovado e conta com monitoramento por mais de 300 câmeras, sinalizadores de vagas, seguro e serviço de SOS para os carros 24/7”.
A Rodoviária do Rio foi procurada mas não respondeu, assim como o shopping RioSul e as redes de shoppings Ancar Ivanhoe, Allos e Multiplan.
Opções para economizar
Na hora de deixar o carro no estacionamento, há alternativas para tentar economizar. Algumas empresas oferecem programas de fidelidade que dão descontos na tarifa, dependendo do volume de compras.
No Rio, o Shopping Tijuca, na Zona Norte, dá descontos de 20% no tíquete da garagem, uma vez ao dia, aos cadastrados que enviam no aplicativo do empreendimento as notas fiscais de compras. Gastos a partir de R$ 3 mil (em pelo menos 12 compras) aumentam a redução para 50%, enquanto R$ 8 mil (a partir de 24 compras) tornam o estacionamento gratuito.
O mesmo acontece no Norte Shopping, no Cachambi, cujo programa de benefícios também garante descontos no estacionamento de acordo com o consumo. O abatimento começa em 20%, com uma compra de qualquer valor, e vai até 100%, em pelo menos 24 compras que somem R$ 4.500. Em Niterói, o Plaza Shopping também oferece vantagens.
Outros empreendimentos dão descontos dependendo da forma de pagamento. No Botafogo Praia Shopping, na Zona Sul, no Boulevard Rio, em Vila Isabel, e no Shopping Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense,o abatimento na tarifa do estacionamento é de 10%, se o pagamento for feito pelos aplicativos dos shopping centers.
O Aeroporto Internacional do Galeão reduz o estacionamento em até 50%, se os viajantes reservarem a vaga pela web (riogaleao.com/passageiros/parking).
Outra opção é recorrer aos aplicativos que reúnem informações de estacionamento e de vagas livres. Em alguns casos, é possível verificar os valores e comparar os preços cobrados. Há ferramentas para celulares com sistemas Android e iOS, como o ParkMe, que indica o valor do serviço prestado pelo estacionamento.
O Parkopedia também ajuda. Basta informar a cidade ou o CEP e checar as opções distribuídas no mapa. A plataforma informa o número de vagas disponíveis, a distância até o local e o preço do serviço.
Em outros espaços, o preço sobe ainda mais, como em estabelecimentos especializados, a exemplo do Terminal Menezes Cortes, no Centro do Rio.
Não há dados específicos que calculem a carestia dos estacionamentos do Rio, mas números nacionais ajudam a entender. Desde 2021, quando os trabalhadores começaram a voltar ao trabalho presencial, a inflação dos estacionamentos acumula alta de 15,06%, enquanto a inflação geral é de 20,76%, segundo o IBGE. De janeiro a julho deste ano, a alta chegou a 3,28%, acima do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) geral, de 2,87%.
Extra, 21/09/2024