Por Jorge Hori*
Oitenta anos depois que os arquitetos que se acham donos do urbanismo decidiram que a forma de vivermos em cidade seria com a separação das funções urbanas, estamos mudando.
O mercado ocupou as cidades com uso misto do solo. No Brasil, como legado das concepções ibéricas, os comerciantes abriam as lojas de frente para a rua e moravam no andar superior ou até no porão. Moravam e trabalhavam no mesmo imóvel.
Os arquitetos-urbanistas se revoltaram contra esse modo de vida e, através da captura do Estado, utilizando o poder de Estado, impuseram outro modelo: a cidade tinha de ser dividida em bairros especializados: um para a residência, outro para a indústria e um terceiro para comércio e serviços. E cada terreno só podia ser ocupado para uma função urbana. O imóvel de uso misto era condenado, como até penalizado por contrariar a legislação urbanística imposta pelos urbanistas. Com a complacência e adesão das autoridades políticas.
A teoria da conspiração dirá que esse modelo foi inspirado por Henry Ford para viabilizar o mercado de automóveis.
Por este ângulo, o modelo foi mais do que bem-sucedido. Do ponto de vista da melhoria das condições de vida urbana, um rotundo fracasso.
Com o colapso da mobilidade urbana, a doutrina da Carta de Atenas (1933) está substituída pelo modelo preferido pelo mercado: bairros mistos e uso misto do terreno. Ainda com grandes resistências, por parte de uma elite que não quer perder os privilégios das Zonas Estritamente Residenciais. Já não são mais bairros, mas guetos. Que o Waze está comprometendo.
Com a separação das funções urbanas e o carro para a movimentação entre um e outro, a cidade requeria duas vagas por carro: um para a origem e outro para o destino.
Com os usos mistos e a tendência de aproximar o local de moradia com o do trabalho, será necessária apenas uma vaga. Que terá dupla função: servirá tanto para origem como para destino.
Os deslocamentos serão feitos a pé. No caso de imóveis mistos, as pessoas poderão estar trabalhando e morando no mesmo prédio. Com as novas tecnologias, as pessoas poderão morar e trabalhar no mesmo imóvel: ou seja, trabalhar em casa.
Para o setor de estacionamento, essa mudança, com tendência de se tornar dominante, irá determinar novos modelos de negócios.
De uma parte, a demanda por vagas - e respectivo espaço - será menor.
Fundindo a função das vagas (origem e destino), onde ficarão as vagas em condomínios mistos? Junto aos edifícios residenciais? Junto aos edifícios de escritório ou comerciais? Ou em imóveis específicos? No caso de São Paulo, esses edifícios-garagens poderão se beneficiar dos incentivos estabelecidos na Lei de Zoneamento?
Como serão operados esses estacionamentos? No modelo self-parking ou com manobristas?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.