Parking News

Estacionamentos e sua função social

estacionamentoprivado02-751-168

Por Jorge Hori*

Em São Paulo há muitos terrenos sem construção, ocupados por estacionamentos. A Prefeitura Municipal, na gestão Haddad, quer acabar com eles porque acha que não cumprem a função social da propriedade urbana. E obteve o apoio da Câmara dos Vereadores. Quer forçar a ocupação com construções, principalmente com habitações de interesse social. É uma visão equivocada do problema.

Os terrenos são usados como estacionamento porque existe demanda. Ou seja, atendem a uma necessidade urbana, o que já dá uma função social à propriedade.

A dinâmica urbana ocupa inicialmente as áreas com casas unifamiliares, com no máximo dois andares, os sobradinhos, que não requerem grandes fundações e são de menor custo por metro quadrado construído. Quando determinadas áreas passam a ter maior demanda, para atendê-la a solução é a verticalização. Não existe verticalização imobiliária sem que haja demanda.

Essa verticalização não ocorre de uma só vez, mas gera um impacto generalizado na quadra ou no bairro. O valor imobiliário aumenta substancialmente e leva ao aumento do aluguel e dos impostos, além de tornar o custo de vida do entorno mais alto. Um segundo impacto é a ocupação de casas residenciais por escritórios e comércio.

A parte transformada gera um novo ambiente, mas as casas ainda não compradas para as novas edificações tendem a ficar vazias. O locatário, em função da elevação dos custos, não permanece e o proprietário não consegue outro, a menos de mudança de uso, o que nem sempre é permitido pela Lei de Zoneamento. Quando é moradia do proprietário ele tende a resistir em sair e pode ficar imprensado entre dois edifícios, o que piora a sua condição de vida e gera uma desvalorização do potencial.

A verticalização e a mudança de uso geram uma demanda adicional para estacionamentos, não atendida internamente pelos imóveis, restando a alternativa de uso da via pública. Se o movimento aumenta, a Prefeitura restringe o uso da via pública para estacionamento, obrigando o motorista a buscar locais mais distantes do seu destino.

Diante desse crescimento de demanda paralelamente à desocupação das casas, demolir a casa e usar o terreno como estacionamento é mais rentável. Ou ao menos garante uma renda, que o proprietário deixou de ter com a perda da locação.

E, dada a perspectiva de verticalização, o uso como estacionamento é uma forma de espera para a sua ocupação por uma incorporação. Ocorre também que a incorporadora compra o imóvel, promove a demolição e o usa como estacionamento, enquanto espera a aprovação da licença de construção.

Daí um grande volume de estacionamentos em terrenos sumir dando lugar a uma incorporação e surgirem novos, seguindo a mesma dinâmica, até que se esgotem todos os terrenos sem uma edificação vertical.

Em alguns casos a permanência do terreno vago é longeva, por razões de pendências familiares ou outras.

Uma alternativa recém-levantada para os estacionamentos em terrenos vagos é a sua transformação em pulmão verde, com o plantio de árvores, o que tem lados positivos e negativos.

O lado positivo é a geração de áreas verdes, que além do efeito paisagístico tem a função de sequestro de carbono. Ou seja, elas absorvem parte dos gases emitidos pelos ônibus, outros veículos, assim como de outras fontes, evitando que subam à atmosfera e gerando o efeito estufa. Cada árvore tem um pequeno efeito, mas no conjunto é significativo.

As árvores podem gerar sombra para os carros estacionados, mas os pássaros também gostarão muito das árvores e acabarão sujando os carros. A menos que o estacionamento tenha um serviço de limpeza imediata da sujeira, antes que seque, a vantagem da arborização virará desvantagem.

O problema maior será a retirada da arborização para a ocupação do terreno para edificação. Haverá um custo e demora para o licenciamento, depois a identificação da localização para a transferência das árvores e custos com a transferência. Em alguns casos não será viável a mudança, implicando derrubada e compensação de plantio em outra localidade.

Portanto, não poderá ser qualquer árvore, mas espécies que facilitem a mudança.

Como sempre, a idéia inicial é boa, mas é preciso sempre avaliar os detalhes e os diversos impactos.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


Outras matérias da edição

Selo Empresa Solidária com a Vida

O presidente em exercício, Michel Temer, sancionou dia 20 a Lei nº 13.289, que dispõe sobre o Selo Empresa Solidária com a Vida, destinado às empresas que desenvolvam programa de esclarecimento (...)

Multa vira advertência

O motorista que comete uma infração de trânsito leve ou média tem direito a solicitar aplicação de advertência em vez de pagar uma multa e ter os pontos registrados na habilitação. Para agilizar o pro (...)

Parada permitida. Até quando?

O Grajaú foi um bairro projetado há 102 anos. Construído em uma época na qual automóveis eram para pouquíssimas pessoas, não teve um plano que focasse no estacionamento (...)


Seja um associado Sindepark