Por Jorge Hori* - A economia funciona em círculo e a cada volta de 360° retorna ao mesmo ponto, mas em nível acima, igual ou abaixo do anterior.
No primeiro trimestre de 2019, a volta foi para baixo. Ao completar o círculo, ficou 0,2 abaixo do anterior. Se no segundo trimestre o nível de retorno ficasse ainda mais baixo, segundo os economistas, o Brasil entraria em recessão técnica.
Esses "terroristas técnicos" alardearam um temor que não se confirmou. A nova volta, agora no segundo trimestre de 2019, chegou ao mesmo ponto num nível ligeiramente superior: 0,4 %. Alívio geral.
Não há muitas explicações sobre como isso aconteceu a menos de suposições genéricas a partir de grandes eventos conhecidos (greve dos caminhoneiros em maio, junho de 2018, ruptura da barragem de Brumadinho, no início de 2019). De resto, só análise de elevador, repetida por todos os especialistas e leigos: isso subiu, aquele desceu. Esse subiu muito, aquele subiu pouco. E daí?
Numa economia relativamente fechada, como a brasileira, a variação do PIB é puxada pela demanda do consumo familiar, que representa 62% do PIB, na ótica da demanda. O consumo do Governo, ora em queda, ainda tem um peso maior que os investimentos. Aquele representa 20% do PIB, enquanto toda "formação bruta de capital fixo" que congrega tanto os investimentos públicos como privados representam 18%.
Para puxar o crescimento pela demanda interna, seria necessário estimular o consumo das famílias, o que enfrenta dois grandes entraves: um psicológico e outro real.
O psicológico é o temor ou "medo absoluto" dos economonetaristas, com o recrudescimento da inflação, a partir de um excessivo aumento do consumo das famílias. Esses, que dominam o Banco Central, preferem conter o crescimento real da economia para prevenir contra o risco da inflação.
São eles que - efetivamente - estão no comando da economia e, diante da subserviência dos demais agentes econômicos, a economia real continuará numa estabilidade com pequenas variações para mais ou para menos.
O consumo das famílias cresceu no período dos últimos 12 meses 1,5%. No mesmo período, a indústria caiu 0,1% e a agropecuária apenas 1,1%. Houve carência de oferta de produtos nacionais. Por que não voltou a inflação? Simples, porque houve oferta de produtos importados.
O crescimento do consumo interno não puxa inteiramente a produção, que gera empregos e aumenta o consumo, fechando o ciclo. O processo é interrompido por desvios que geram os empregos fora e melhoram o consumo dos exportadores de fora.
Alguns apressados logo querem a proteção à produção nacional, para supostamente gerar mais empregos locais. A saída não é essa. O caminho é um esforço para aumento das exportações industriais.
A demanda mundial existe, em grande escala, apesar das turbulências atuais do confronto comercial entre os EUA e China e outros embates menores. Mas o Brasil ainda tem uma participação ridícula nesse mercado mundial e é por incompetência e falta de vontade.
Enquanto os empresários brasileiros continuarem voltados para dentro, a economia brasileira seguirá nos seus "voos de galinha".
E não esperem pelo Governo. A política econômica é contorcionista, não apenas contracionista. É inteiramente enrolada.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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