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Custo alto e concorrência de aplicativos provocam redução de movimento em estacionamentos de Porto Alegre (RS)

 

Foram as duas horas mais caras da semana de Marcus Jiorge: R$ 39 para deixar o carro em um estacionamento na Rua Riachuelo, em Porto Alegre, mais os custos do tratamento dentário que realiza no prédio em frente.

– É caro. Como não era uma coisa permanente, resolvi incluir esse gasto no planejamento. Aí aproveito para fazer outras coisas quando venho ao dentista – conta o professor de gastronomia de 54 anos.

Segundo cálculos que fez, estacionar no Centro tem acarretado incremento de R$ 400 mensais nas despesas de Jiorge. Ele diz ter abraçado o custo por conta da sensação de segurança.

Era, no entanto, dos poucos que toparam o preço salgado para deixar o veículo na garagem, uma das mais dispendiosas das imediações — na terça-feira, o jornalista Tulio Milman espantou-se com o valor cobrado no mesmo local e escreveu sobre o assunto em sua coluna. Por volta do meio-dia desta quinta-feira, menos de 20 das mais de 30 vagas estavam ocupadas.

Segundo Hélio Santos, que trabalha no local há dois anos, o serviço já foi mais caro: os atuais R$ 39 cobrados pela diária eram R$ 50 — valor praticado em um estacionamento da mesma rede no bairro Moinhos de Vento. Mesmo com a diminuição do valor no Centro, o movimento vem caindo.

— Em outros tempos, estaria cheio agora. Hoje está vazio. Piorou muito, acho que por causa dos aplicativos (de mobilidade) — avalia.

O valor médio do serviço em estabelecimentos das ruas Duque de Caxias, Riachuelo, Marechal Floriano Peixoto, General Câmara e Andrade Neves varia entre R$ 6 e R$ 8 por meia hora, e entre R$ 20 e R$ 30 a diária. Mesmo quem oferece preços mais camaradas, porém, observa o fluxo mais tímido nos últimos dois anos.

Valdecir da Silva, 43 anos, é proprietário de dois estacionamentos no Centro, um na Rua General Bento Martins e outro na Rua Duque de Caxias. Ele não se queixa: às 13h desta quinta-feira, a garagem ao lado do Museu Júlio de Castilhos tinha 75% da capacidade ocupada. Destaca, no entanto, ter percebido uma diminuição do rotativo nos dois pontos.

— Aqui (na Duque), deve dar uns 20 carros por dia, bem menos que os mensalistas. Na Bento, antigamente, eu tinha que atrolhar para caber os carros. Já não lota mais assim — diz o empreendedor, que atua no ramo há oito anos.

Valdecir acredita que a crise, somada a uma maior difusão dos aplicativos de transporte, tem feito com que pessoas que moram mais perto do Centro optem por alternativas para não ter de pagar estacionamento. Mesma impressão tem Rodrigo Linn, que administra uma das garagens mais antigas da região, na Rua General Câmara. Proprietário da Garagem da Ladeira, em funcionamento há mais de cinco décadas, relata que, mesmo de forma sutil, as mudanças têm afetado a movimentação no ponto tradicional.

— Aqui não tivemos uma baixa significativa, mas sabemos que houve, principalmente por causa dos aplicativos, que compensam mais para quem vem de perto — diz.

Quem tenta ingressar no ramo ainda busca respostas para o movimento escasso. Em um ponto da Rua Riachuelo há cerca de dois meses, Isaura da Silva Silveira Pereira tem amargado números abaixo dos 40 carros diários estimados: recebe uma média de 20. Primeiro, acreditava ser reflexo das férias escolares. Depois ouviu dos colegas que a baixa teria relação com a Casa Azul, imóvel próximo interditado desde o ano passado, que provocou bloqueios e alterou o trânsito nas imediações.

— Tem dias que dá um movimento, mas acho que está fraco ainda —  reclama.

Sindicato fala em queda média de 20%

Segundo o Sindicato das Empresas de Garagens, Estacionamentos, Limpeza e Conservação de Veículos do Estado do Rio Grande do Sul (Sindepark-RS), não é apenas impressão. A entidade estima que os estacionamentos de Porto Alegre tiveram uma queda média de 20% na movimentação nos últimos dois anos.

—  É uma realidade que, com a questão dos aplicativos, o movimento diminuiu. Os estacionamentos mais organizados, que controlam isso, têm constatado. Mas sabemos que a demanda sempre vai existir. (A sobrevivência) vai depender do ponto, do preço, do modelo de exploração e de como se adaptam às novas tecnologias — diz o presidente do Sindepark-RS, Francisco Nora.

Apesar da queda média, segundo o dirigente, o número de estacionamentos tem se mantido nos últimos anos. Conforme a instituição, são cerca de 1 mil em toda a Capital.

Fonte: Agência RBS, 28/03/2019

Categoria: Geral


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