A crise econômica chegou e parou. Ou melhor, estacionou. Proprietários de estacionamentos na região central de Campinas se veem obrigados a baixar em até 30% o preço para mensalistas. Além disso, eles congelaram as tarifas para pagamento fracionado, por hora, para tentar amenizar a queda de cerca de 30% no movimento registrada desde outubro do ano passado, quando o cenário econômico e sua acentuada tendência de retração atingiram com mais força o setor.
Os preços para mensalistas variam de R$170,00 aR$ 270,00. Já a hora parada custa entre R$ 10,00 e R$ 14,00, dependendo do local e do horário de uso. Segundo dados do Sindicato dos Empregados nas Empresas de Estacionamentos e Garagem de Campinas, a cidade possuía até 2013 aproximadamente 800 estabelecimentos, sendo a grande maioria no Centro e bairros no entorno. Cadastrados no sindicato, pelo menos 150 estão na região central. A Rua Barão de Jaguara é a mais concorrida. Os preços pela hora nas dezenas de estabelecimentos nessa via variam de R$10,00 aR$ 14,00, e nas demais horas oscila entre R$ 6,00 e R$ 7,00.
Porém, mesmo com uma diminuição de 30% na clientela, derrubar os valores está fora de cogitação no momento. Há mais de 32 anos no mesmo ponto, o proprietário do estacionamento 1005, Roberto Alves Valbert, considera o cenário como uma das piores retrações já enfrentadas. “A queda no faturamento foi de aproximadamente 30%”, disse. A taxa é em comparação a janeiro desse ano com novembro de 2015. Segundo Valbert, o mês de dezembro foi muito satisfatório. “Sou dono do terreno e não pago aluguel, por isso ainda consigo manter o valor de R$10,00 aprimeira hora e R$ 4,00 as demais para os veículos pequenos”, contou o proprietário. No AS Estacionamento, localizado na Rua Irmã Serafina, o gerente André Marques da Silva Leite encontrou uma maneira de driblar a crise: “Para motivar o cliente, os mensalistas terão desconto de 30% no valor”, afirmou. Segundo Leite, a partir de outubro de 2015 houve uma diminuição de 35% no faturamento da empresa.
“O último reajuste foi no valor da lavagem em outubro, pois tivemos aumento na taxa de água. Mas no valor da hora não vamos mexer. Por outro lado precisamos recuperar os mensalistas, que caíram bastante”, completou.
Oferta e demanda
Os especialistas em finanças afirmam que como os valores dos serviços são formados por demanda e oferta, a atividade do consumidor determina as oscilações de preço nesses casos. Ou seja, em vez de consumir, as pessoas preferem poupar, e ultimamente quando precisam pagar para estacionar é por uma necessidade específica. “Sempre parei nesse estacionamento, e percebi que o movimento caiu”, reparou a psicóloga Cirlene Venturini, de 53 anos. Para driblar os valores ela aconselha: “Estou sendo muito mais direta em minhas compras. Só venho para o Centro quando preciso resolver algum problema e evito me distrair com outras coisas”, disse.
O gerente do estacionamento Caraca, Junior Teixeira, disse que o número de mensalistas caiu em 20% nos últimos três meses. “Nunca vi uma crise tão feia quanto essa. Perdi muitos clientes mensalistas por conta das demissões no Centro da cidade. De julho do ano passado até agora a queda já foi de 30%.” O estabelecimento fica na Rua Dr. César Bierrembach, próximo a várias lojas e escritórios.
Ainda segundo Teixeira, antes o trabalho era realizado com cinco funcionários — hoje ele conta com apenas dois.
Tendência nacional
Entre as cinco capitais onde o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acompanha os preços de estacionamentos houve queda nos preços de até 1,25% no Rio de Janeiro, em São Paulo e Porto Alegre. Só em Fortaleza houve aumento e, mesmo assim, quase nada: 0,06%. O Sindicato das Empresas de Garagens e Estacionamento do Estado de São Paulo informou que a crise econômica está levando à redução de movimento, e o setor sentiu a diminuição de 30% no número de clientes. Por outro lado, segundo o sindicato, essa porcentagem tem sido aplicada na mesma proporção na diminuição da tarifa em algumas cidades.
Fonte: Correio Popular - Campinas – 10 de fevereiro de 2016