Por Jorge Hori* - O IBGE confirmou um "pibinho" de 1,1% em 2019, isto é, mais um voo de galinha, iniciado no ano com perspectiva de alcançar mais de 2%, contando com a reforma da Previdência. Com a perspectiva de não alcançar a meta, o Governo recorreu a uma medida conjuntural, liberando depósitos do FGTS. Deu um alento no terceiro trimestre, mas não se sustentou no quarto trimestre, resultando no pibinho.
O Governo, acompanhado por analistas favoráveis a ele, acha o resultado absolutamente normal e dentro do esperado.
Se assim for, podemos esperar por uma quase estagnação da economia ao longo de todo o Governo Bolsonaro, com o PIB variando, anualmente, em torno de 1%.
Dentro do modelo atual da economia brasileira predominantemente voltada para dentro, o Governo está - obsessivamente - "jogando todas as fichas" na desoneração da folha de pagamentos dos salários. Acredita que com essa desoneração as empresas irão contratar mais, inclusive formalizando os trabalhadores informais.
Não conseguiu concretizar por não conseguir viabilizar as alternativas de fontes de receita para cobrir as perdas com a desoneração. Paulo Guedes quer o tributo sobre transações financeiras. O presidente não deixa, porque tem cheiro de CPMF. Guedes pode colocar todos os perfumes, mas o cheiro permanece. Bolsonaro detesta.
O Governo pode até promover a desoneração da folha. Os empregadores vão gostar, para pagar menos sobre a folha atual. Mas para aumentá-la, contratando mais pessoas, continuarão perguntando "cadê os pedidos?". Sem demanda não irão contratar mais.
Sem contratar mais a massa salarial não vai aumentar substancialmente. A demanda agregada não vai crescer.
Ficaremos no círculo vicioso.
Como a economia não é uniforme, alguns setores irão crescer, em função de hábitos. O negócio de pets vai continuar crescendo. Mas sacrificando que gastos, se a renda não cresce?
Paulo Guedes quer fazer a reforma administrativa e outras medidas para redução dos gastos com servidores públicos. Bolsonaro, que tem como um dos principais grupos de apoio esses trabalhadores, interdita. Atrasa o quanto pode. Pretende adiar por 15 semanas. Guedes acha que só tem essas mesmas 15 semanas para aprovar. Sem o apoio do presidente, "não vai rolar".
A reforma tributária enfrenta um impasse quase insolúvel. O Congresso apoia a tributação sobre o consumo. Quem paga muito, quer reduzir. Quem paga pouco não aceita o aumento. Os que pagam pouco são hoje a maioria da economia. Do jeito que está colocado também "não vai rolar".
Paulo Guedes ainda sonha com um regime autoritário, do tipo Pinochet, para implantar as reformas que considera necessárias, sem depender do Congresso: "não vai rolar".
Com Paulo Guedes a economia não irá decolar, a curto prazo. Mas mudá-lo poderá ser pior. Em vez de estagnação podemos voltar à recessão.
E qual é a saída? Está na saída.
Na saída de mais produtos industrializados para o mundo. O Brasil vende pouco, quase nada para o mundo. Visto daqui pode parecer muito, mas considerando o mercado mundial é uma participação de menos de 2% das exportações mundiais.
As condições para a indústria brasileira se voltar mais para o exterior são extremamente favoráveis internamente: a inflação está baixa, os juros básicos em níveis muito inferiores à rentabilidade média dos investimentos industriais e o dólar alto. Em contrapartida, o mercado mundial está em contração.
Mais uma vez temos que perceber as heterogeneidades. O Brasil precisa perceber os segmentos favoráveis e se inserir mais fortemente neles. É a saída que resta ao Brasil, para retomar o seu crescimento econômico.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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