O veículo zero quilômetro vai se tornando cada vez mais distante da realidade financeira da imensa maioria dos brasileiros.
Definitivamente, o setor de carros usados e seminovos está com tudo nos últimos tempos. E os números confirmam o bom momento: segundo a Fenauto – Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores – em 2021 foram comercializadas 15.106.724 unidades, número que aponta para um resultado 17,8% superior ao obtido no ano de 2020.
E engana-se quem pensa que o aumento expressivo nas vendas está relacionado apenas à crise econômica gerada pelo coronavírus, que teve seu momento mais crítico durante o ano de 2020. Ao comparar as vendas de 2021 com os resultados de 2019, ano em que ainda não havia pandemia, os números permanecem positivos: o setor obteve um crescimento de 3,5%.
Mesmo assim, é notório que uma parte significativa desse resultado está relacionada à montanha russa que a indústria automobilística vem atravessando desde o início da crise sanitária. Com a escassez de insumos tecnológicos e componentes, a produção de veículos novos precisou ser reduzida a um ritmo mais lento, gerando desabastecimento de carros novos nas concessionárias. Além disso, é claro, não se deve esquecer que todas as montadoras tiveram períodos de fábricas fechadas por conta das restrições de saúde necessárias ao combate à Covid 19.
Esse somatório de fatores tornou o carro zero quilômetro um produto cada vez mais caro e mais escasso, direcionando o público consumidor à alternativa mais lógica: o mercado de carros usados e seminovos.
Fim do carro popular também ajudou
Para Gustavo Braga, sócio da Carupi, startup de tecnologia que oferece uma plataforma online de compra e venda de carros, há outro elemento nessa equação que precisa ser lembrado: a morte lenta e gradual do carro popular no Brasil. Para o especialista, a falta de opções mais acessíveis no mercado de carros novos desempenha um papel importante no aquecimento das vendas de usados e seminovos.
“O chamado carro popular era o primeiro carro zero de muita gente, e representava uma conquista. Não à toa, ele também era conhecido como carro de entrada. Agora, eles sumiram das concessionárias, e o veículo zero quilômetro vai se tornando cada vez mais distante da realidade financeira da imensa maioria dos brasileiros”, afirma.
Braga explica que, mesmo no setor de usados, há diferentes categorias de veículos, que atendem ao bolso de todos. “Muitos seminovos estão em perfeito estado e oferecem conforto e tecnologia avançada pelo preço de um zero quilômetro desprovido desses diferenciais. Para quem pode investir neles, é um ótimo negócio”.
E para quem está com a grana curta? O executivo destaca que também há muitas opções, como carros até 20 mil que valem a pena. “Comprar um carro de mais idade, mas com boa procedência e de alguém de confiança, pode ser uma opção econômica e bastante inteligente também”, diz.
Para 2022, a previsão é de uma normalização na produção de veículos novos, conforme os efeitos da pandemia vão se tornando menos sensíveis. Mas Gustavo acredita que o setor de usados deve seguir acelerado. “Será ano de eleição, tradicionalmente conturbado na economia. Além disso, para atender às recentes legislações governamentais para a indústria automotiva, as montadoras devem manter uma política de preços voltada a carros novos menos acessíveis, porém mais rentáveis”, conclui. (Imagem: Freepik)
Fonte: carupi.com, 26/01/2022