Parking News

Carros e a utopia do País das Maravilhas

avstoamaro-529

Por Jorge Hori*

Uma longa matéria do suplemento Eu & Cia - Fim de Semana, do jornal Valor Econômico, sobre o prefeito Fernando Haddad, confirma a visão modernista, porém idílica, do acadêmico que vê uma cidade que não existe. Talvez seja por estar influenciado pelos 150 anos da publicação de Alice no País das Maravilhas.

Ele sonha e quer uma cidade sem carro. Fez algumas coisas concretas e visíveis desse seu sonho, mas outras estão em leis ou projetos de lei e ainda são pouco visíveis para a população.

Em tudo há um desejo: tirar os carros das ruas de São Paulo.

Criou faixas de ônibus do lado direito das vias, reduzindo o espaço de circulação para os veículos particulares, somando-se aos corredores ônibus à esquerda.

O que mais chama atenção são as faixas pintadas de vermelho em vias públicas reservadas para os ciclistas, retirando faixas de rolamento, mas principalmente vagas de estacionamento. Ele pretende remover, ao todo, cerca de 40.000 vagas de estacionamento em vias públicas, alegando que elas prejudicam o trânsito com os carros fazendo balizas para estacionar, segurando o fluxo. Isto é fato, mas ele não contabiliza a quantidade adicional de carros circulando procurando uma vaga, como mostram pesquisas nacionais e internacionais. Nas áreas de maior movimento, cerca de 1/3 dos carros estão circulando em busca de uma vaga.

As faixas são reservadas para ciclistas que não existem, mas o objetivo principal do prefeito Haddad, com a sua ideologia anticarro, é eliminar as vagas de estacionamento, de acordo com sua suposição e dos seus adeptos de que com menos vagas de estacionamentos haverá menor atração para a vinda para as áreas mais densas de carro.

É uma suposição não comprovada, pelos estudos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). As pesquisas realizadas pelo SINDEPARK com usuários dos seus estacionamentos indicam que eles não deixam o carro em casa e estão dispostos a pagar os preços cobrados, por uma questão de segurança. Mesmo em áreas servidas pelo metrô.

Já os que costumam estacionar nas ruas também não desistem do carro, buscando vagas em locais mais distantes do seu destino. São eles que aumentam o volume de carros em circulação, procurando vagas.

O impacto real da retirada de vagas não é o esperado pelo prefeito.

Ainda na sua cruzada anticarro, através da redução de vagas ele incentiva e autoriza a instalação dos chamados parklets. Esses deveriam ser espaços públicos, mas patrocinados pela iniciativa privada. Dentro da cultura brasileira essa iniciativa é seguida pela captura do espaço público. Direta ou indiretamente.

O que não está verificado é se os frequentadores dos parklets são da vizinhança, que ganharam um espaço adicional de convivência, sem precisar usar o carro, ou se são de locais mais distantes que chegam com o seu carro, estacionam nas proximidades para se encontrar com os amigos no parklet. Muitas vezes para esperar uma mesa num bar ou restaurante próximo. Ou até em frente do estabelecimento que cria o parklet exatamente como a sua área de espera. Nesse caso há apenas a transferência dos locais de estacionamento.

E durante a semana, quando há maior uso dos automóveis, os parklets ficam vazios, sem uso, e retiram o lugar de duas ou três vagas de estacionamento.

Os usuários desistiram de ir de carro para a região, usando o transporte coletivo, buscando vagas em ruas mais distantes do seu destino ou simplesmente abandonam a região, como local de trabalho?

Não há dados para comprovar nenhuma dessas hipóteses. Só especulações com base em depoimentos individuais, nem sempre representativas.

Mas o resultado geral visível é que não houve redução do fluxo de veículos na cidade e os congestionamentos persistiram, mesmo em julho, um mês de férias escolares.

O prefeito Haddad confia que é uma fase de transição e que em médio ou longo prazos os motoristas vão deixar o carro em casa e usar mais a bicicleta ou o transporte coletivo. Ele acredita que na campanha eleitoral, com maior tempo de televisão, poderá - como professor - explicar didaticamente aos ignorantes, atrasados e obtusos cidadãos paulistanos a maravilha de cidade que ele está criando.

E com isso teria mais quatro anos para criar diariamente uma novidade para atrapalhar a vida do paulistano.

O seu risco é que não consiga convencer o eleitorado e seu sucessor não dê continuidade às suas utopias “alicianas”.

 

 

* Jorge Hori é consultorem Inteligência Estratégicae foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


Outras matérias da edição

Governo regulamenta proteção ao emprego

O comitê interministerial incumbido de regulamentar o Programa de Proteção ao Emprego (PPE), lançado no começo de julho pelo governo federal por meio de Medida Provisória, divulgou, dia 21, as regras (...)

FecomercioSP lança cartilha Simples Nacional

Com a proposta de esclarecer o Simples Nacional, regime de arrecadação, cobrança e fiscalização das Micro e Pequenas Empresas, a FecomercioSP lançou uma cartilha explicativa com os principais pontos d (...)


Seja um associado Sindepark