O número de multas de trânsito aplicadas por agentes superou a quantidade de infrações registradas pelos equipamentos eletrônicos neste ano, em Rio Preto. Foram 38.864 multas aplicadas por policiais militares e guardas municipais nos cinco primeiros meses de 2022 contra 37.392 infrações captadas por radares móveis e estáticos no mesmo período. Uma diferença de 1.572 infrações. O cenário é inédito. Relatórios produzidos pela Secretaria de Trânsito desde 2017 mostram que, nos últimos cinco anos, a tecnologia sempre se sobrepôs à ação humana na fiscalização das normas previstas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB).
A média de multas aplicadas por mês confirma que policiais e guardas municipais estão mais rigorosos com a segurança viária. Em 2019, quando ainda não havia pandemia e restrição de circulação, a PM e a GCM aplicaram, juntas, 4.825 multas por mês, em média. Em 2022, a média mensal de infrações é de 7.792 – aumento de 61%.
As transgressões mais cometidas pelos motoristas em Rio Preto, e flagradas por agentes, são uso de celular ao volante, falta de cinto de segurança, irregularidade na utilização da Área Azul e desrespeito aos corredores de ônibus. Já entre os radares, as mais comuns são excesso de velocidade, avanço do sinal vermelho e parar sobre a faixa de pedestres.
Amaury Hernandes, secretário de Trânsito, atribui a mudança nos números à atividade delegada. Ou seja, o convênio firmado com a Polícia Militar para fins de fiscalização de trânsito. O contrato prevê a oferta de 12 PMs por dia a serviço da Prefeitura de Rio Preto.
“Os policiais devem estar focados em questões sensíveis do trânsito, que são de atribuição do município. Por exemplo, falta de cartão da Área Azul, utilização dos corredores de ônibus, estacionamento em vagas de carga/descarga e circulação de motos de leilão, que causam transtornos no trânsito e não são multadas porque foi dado baixa na placa”, diz.
Responsável pelo policiamento de trânsito na cidade, o tenente da PM Cristiano Vieira atribui o maior número de multas por agentes à previsibilidade dos radares.
“Os motoristas que transitam por Rio Preto sabem onde estão os pontos fixos de fiscalização de velocidade. Então eles reduzem somente no trecho e depois seguem infringindo as leis. Obedece o semáforo vermelho, mas fura os outros não monitorados. O que não ocorre quando a Polícia Militar se posiciona em pontos estratégicos, com base nos índices de criminalidade e de acidentes de trânsito. O condutor que é rotineiramente infrator das regras, acaba surpreendido”, explica.
Além da atividade delegada, o oficial atribui o aumento de multas aplicadas por agentes à Operação Sufoco, cujo objetivo foi aumentar o efetivo de policiais nas ruas e, consequentemente, reforçar o patrulhamento.
Para o coordenador operacional da Guarda Municipal, Alexandre Montenegro, a grande quantidade de multas aplicadas, seja por agentes de fiscalização, seja por radares, só reflete a dirigibilidade do motorista rio-pretense, ou seja, a maneira como ele se comporta no trânsito.
Educação no trânsito
José Felex, engenheiro de trânsito, é contra o uso de tecnologia para garantia da segurança viária. “A máquina é apenas punitiva, não há educação. Cem por cento dos motoristas reduzem a velocidade em um radar de rodovia e aceleram logo depois de passar pelo equipamento. O condutor que é velocista vai continuar velocista”.
Para o especialista, a aplicação de multa por agentes, sem a devida abordagem, também não gera mudança de comportamento. “O motorista paga e segue a vida. O simples fato de a polícia me parar na rua tem um efeito diferente na minha conduta, provoca a lembrança da infração. Eu vou evitar passar por aquela situação novamente”, diz.
O especialista defende que, se a abordagem aumentar, o número de infrações vai diminuir.
Sobre o assunto, a Guarda Civil Municipal (GCM) informou que realiza ações de educação de trânsito nas escolas. Já a Polícia Militar ofereceu recentemente orientação aos entregadores de comida sobre pilotagem segura.
O tenente Cristiano Vieira disse que a PM planeja abordagens educativas (mas também fiscalizadoras) na Semana Nacional do Trânsito, em setembro.
Diário da Região - São José do Rio Preto - SP - 29/06/2022