Por Jorge Hori* - As contas nacionais, mais conhecidas pelo seu principal indicador, o PIB, mostram (dentro das margens de erro) o que aconteceu no trimestre e anos anteriores, pelas decisões dos agentes econômicos, todos seres humanos.
A economia funciona pelas ações das pessoas e não por blocos numéricos, como os economistas e especialistas tendem a mostrar.
No terceiro trimestre de 2020, os consumidores brasileiros decidiram gastar mais que no trimestre anterior.
O primeiro trimestre ainda foi de transição. A pandemia já havia se instalado na China, mas os primeiros infectados, vindo da Europa, de regiões com alto intercâmbio com a China, só chegaram em fevereiro. A primeira morte ocorreu no final da primeira quinzena de março. Até então o consumo das famílias estava em ampliação. Os industriais ainda estavam cautelosos diante da severa recessão nos períodos anteriores e os prestadores de serviços se ajustando à evolução dos consumos, mas com tendência de estabilização positiva. O único setor com continuidade das suas atividades era o agronegócio.
As restrições adotadas ainda em março, pelos Governos Estaduais e Municipais, afetaram - de pronto - o consumo das pessoas, repercutindo na redução das atividades produtivas.
As restrições à circulação das pessoas e ao funcionamento de atividades provocaram uma drástica redução no consumo das pessoas, com um corte de 11,3% em relação ao trimestre anterior e 5,6% a menos em comparação ao 2º trimestre de 2019.
Os gastos públicos também caíram e a principal queda ocorreu com os investimentos. Provavelmente por cautela dos investidores privados e insuficiência de recursos públicos para tal. O aumento dos gastos públicos com os subsídios e aumentos emergenciais demorou a ocorrer pela demora na efetivação dos programas emergenciais.
As exportações se mantiveram estáveis, decorrentes - principalmente - do agronegócio.
Com a macroeconomia ainda fortemente dependente da demanda interna, que representa 85% do total, o enfraquecimento do consumo - juntamente com os baixos investimentos - puxou toda a produção para baixo. Um dos poucos setores que ainda se manteve em crescimento foi o financeiro, amplamente mobilizado para financiar a manutenção das atividades e dos empregos.
O segundo trimestre de 2020 foi o período de maior declínio da macroeconomia brasileira, alcançando o "fundo do poço" no final do trimestre (junho de 2020).
Com as medidas de flexibilização das restrições, muitas pessoas voltaram às compras presenciais, liberando a demanda reprimida. Os beneficiários dos auxílios governamentais, principalmente aqueles que receberam o auxílio de R$ 600,00 mensais do auxílio emergencial, gastaram a maior parte do recebimento na compra de alimentos, refletindo-se, no conjunto, num acréscimo de 7,6% sobre o consumo agregado do trimestre anterior, mas ainda 6,3% abaixo do mesmo trimestre do ano anterior. O que pode ser explicado pela ampliação das taxas de desemprego. Os empregados gastaram mais, mas os desempregados, seja por falta de renda ou por precaução, contiveram as suas compras.
A recuperação do consumo puxou o principal setor de ponta, o comércio, assim como a logística. Os estabelecimentos comerciais do varejo ampliaram os pedidos às indústrias. Os industriais, mais animados com a perspectiva de retomada da demanda, voltaram a movimentar as suas máquinas, aumentar a produção, mas sem o mesmo aumento de empregos. Um dos fatores que pode ter impulsionado o ânimo dos industriais foi a expectativa de um grande aumento das vendas de final de ano, seja da "black friday", como do Natal.
A recuperação do 3º trimestre não completou a "perna ascendente do V" dos gráficos dos economistas, mas os dados setoriais dos dois primeiros meses do 4 º trimestre indicam uma continuidade do crescimento.
O crescimento das vendas no comércio varejista foi significativo, mas não alcançou o nível esperado na black friday e deverá sofrer nas vendas natalinas, com o restabelecimento das restrições.
A flexibilização das restrições teve motivações eleitorais nas principais cidades, com a busca de reeleição dos prefeitos, no cargo. Com exceção do prefeito do Rio de Janeiro e outros poucos, em cidades menores, a maioria foi bem-sucedida, sendo reeleita, alguns em primeiro turno.
O período eleitoral do segundo turno já foi marcado pelo recrudescimento das contaminações e das mortes, mas o restabelecimento das restrições mais severas foi adiado, para não interferir no voto dos eleitores. Terminadas as eleições, essas já vêm sendo implantadas e deverão afetar o consumo das pessoas em dezembro, com muitas desistindo das compras presenciais para evitar as aglomerações.
A retomada do crescimento está sendo abortada pelo novo coronavírus e o primeiro trimestre de 2021 deverá ser de "ressaca", com novos índices negativos. A perspectiva do crescimento em "V" passará a ser em "W".
A grande expectativa de retomada da economia está na vacinação. No Brasil, no entanto, em função de disputas políticas a vacinação em massa deverá atrasar, podendo gerar duas reações populares: o adiamento das compras presenciais, seja de bens como de serviços, de um lado. De outro há o risco de manifestações de rua que poderão descambar em violência. Serão manifestações de diversos grupos, alguns antagônicos. Com reflexo na economia.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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