Por Jorge Hori* - A reabertura, ainda que parcial da economia, está confirmando o que temos reiteradamente colocado aqui, desde o início da crise econômica: é uma crise de demanda não clássica. Isto é, não está nos livros de economia. Por isso as autoridades econômicas não sabem como enfrentá-la. As crises de demanda ocorrem pela redução da renda ou por expectativas deflacionárias.
No caso da pandemia da COVID-19 a mudança abrupta de hábitos e níveis de consumo decorre de motivos não econômicos, mas do medo da contaminação.
Não são todas as pessoas e alguns querem sair às ruas, por não aguentarem ficar confinados e desprezam os riscos. O mais notório é Jair Bolsonaro, mas uma grande parte dos consumidores deixou de fazer compras presenciais em lojas, apesar de manter o seu poder de compra. Ou deixaram de usar serviços presenciais como o dos estacionamentos do seu carro.
A sociedade foi dominada pelas notícias das perdas de emprego e renda, mas, para os empresários que precisam continuar com a sua atividade dia a dia, o mais importante é o seu cliente, ainda com renda.
Como reconquistar esse cliente afastado ou perdido?
Alguns restaurantes e lojas de varejo buscaram através dos serviços de entrega manter a clientela. Os que insistiram no modelo presencial, acreditando numa rápida reabertura, estão fechando as portas, alguns definitivamente. Acharam que o problema era o fechamento. Conseguiram a reabertura, mas os clientes não apareceram. Só aí "caiu a ficha". Alguns ficaram esperando o apoio governamental enquanto o seu estabelecimento estava fechado. Poucos conseguiram e já perceberam que foi e é insuficiente.
Para manter a sua atividade, o foco da empresa precisa ser a reconquista do "cliente perdido".
Como reconquistar um cliente para o qual não se pode entregar a vaga para o seu carro em casa? Por que entregar o que ele não precisa? A vaga que ele precisa é quando sai de casa com o seu carro. Se não sai de casa, com medo da contaminação, não precisa daquela.
Como atrair um cliente que não é próprio, mas derivado de outras demandas? Se a pessoa não sai para trabalhar em escritório, ou loja fora de casa, com o seu carro, para que ele precisa de estacionamento? Se ele não precisa ir ao médico ou à faculdade, ou vai usando transporte coletivo, para que estacionamento? Se ele não vai às compras, seja num shopping center ou numa loja de rua, para que procurar um estacionamento? Se ele não vai almoçar num restaurante ou lanchonete, sair para jantar com a família, ou ir à balada, para que saber se o estabelecimento tem ou não um serviço de valet? São mais perguntas do que respostas, mas convite à reflexão para os empresários, em função da localização e da demanda específica dos seus estacionamentos.
As questões mais gerais para reflexão, avaliação e definição de estratégias e ações seriam: 1) por quais razões o seu potencial cliente sairia de casa, em vez de seguir o "fica em casa"?; 2) por que ele sairia com o seu carro, em vez de buscar um transporte coletivo, chamar um motorista por aplicativo ou um táxi? 3) por que ele escolheria o seu estacionamento e não o de outros?
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.