Todos os dias, milhares de carros passam (e param) no estacionamento do Aeroporto de Guarulhos, gerido pela Indigo, uma das maiores gestoras de vagas do país — e do mundo.
Até agora, porém, a empresa tinha pouco conhecimento sobre esses milhares de veículos. Ela sabia, vá lá, que eles entravam e saíam dos espaços, mas não guardava muito mais do que isso, e nem tinha uma estrutura para usar essa informação estrategicamente.
Agora, porém, isso deve mudar. A empresa está investindo 3 milhões de reais num sistema de análise de dados sobre os motoristas que estacionam seus veículos em alguma das 400.000 vagas que a Indigo opera no Brasil.
A análise vai permitir saber, por exemplo, qual época do ano há mais ou menos demanda e que tipo de motorista estaciona por ali (se é alguém que fica bastante tempo, se é algum cliente esporádico), por exemplo. Com isso, a dona do estacionamento, como um shopping ou aeroporto, pode decidir por tarifas dinâmicas mais inteligentes.
“Numa época com menos demanda, por exemplo, o estacionamento poderá fazer campanhas de marketing ou ações de desconto para atrair clientes”, afirma o vice-presidente executivo da Indigo Brasil, Marcelo Nunes.
Da mesma forma, quando os estacionamentos tiverem demandas acima do normal, o preço pode ser deslocado para cima.
A previsibilidade da demanda também será uma ferramenta da nova aposta da Indigo.
“Além dos dados do motorista, a plataforma também coleta informações como previsão do tempo e previsões de eventos na cidade, o que impacta na demanda e dá previsibilidade de receita”, diz Nunes.
Como funciona o sistema
O sistema, já em operação no Aeroporto Internacional de Fortaleza, coleta uma vasta gama de dados sobre o uso do estacionamento.
Esses dados são coletados utilizando câmeras de leitura de placas e integrando informações de reservas feitas pelo aplicativo e site da Indigo e pelo site da empresa.
A grande questão por trás disso é a tarifa dinâmica, ainda pouco usada no Brasil.
“A tarifa dinâmica é permitida, desde que o cliente seja informado qual é o perfil de tarifa quando está comprando o serviço ou quando está entrando no estacionamento”, diz Nunes. “A ideia não é que o estacionamento faça uma mudança grande na tabela, mas consiga ter uma rentabilidade maior e menos espaços ócios”.
Ter uma estratégia para atrair mais clientes é fundamental num setor tão pulverizado como o de estacionamentos. No Brasil, há dois ou três grandes players, como a Indigo e a Estapar, e uma gama enorme de pequenos estacionamentos de rua e de bairro.
“Tem ainda muita oportunidade de crescimento orgânico, e esse é o principal foco. Temos feito isso ao longo dos anos”, afirma. “A Indigo tem crescido por crescimento orgânico, tem potencial para explorar com novas tecnologias, e é isso que estamos fazendo”.
Indigo tem um faturamento na casa de 1,2 bilhão de reais anuais. Está com cerca de 370 clientes, 400.000 vagas e 4.000 clientes. Entre as operações, além do Aeroporto de Guarulhos, estão:
Aeroporto de Curitiba
Shopping Dom Pedro (Campinas)
PUC-RS
Sírio Libanês
Parque Villa Lobos
Parque Ibirapuera
Fundada em 1964 como parte do grupo Vinci, a Indigo nasceu com o objetivo de oferecer serviços de infraestrutura. Nas décadas seguintes, a empresa diversificou suas operações, estabelecendo-se como uma gigante na gestão de estacionamentos, principalmente na França e em outros países europeus. Em 2015, adotou o nome Indigo, refletindo sua ambição de liderar globalmente no setor de mobilidade urbana. A partir daí, expandiu sua atuação para mais de 10 países, incluindo importantes mercados na América do Norte, América Latina e Ásia, consolidando-se como a maior operadora de estacionamentos do mundo, com milhões de vagas gerenciadas.
Nos últimos anos, a Indigo tem focado em inovações tecnológicas, como soluções de pagamento digital e gestão inteligente de estacionamentos, além de investir em sustentabilidade, com iniciativas que promovem o uso de veículos elétricos e bicicletas. (Imagem: Indigo)
Exame, 27/06/2024