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Vivemos uma insegurança jurídica nos temas tributários no Brasil, afirma Halley Henares Neto

Na atualidade, os grandes temas tributários não dependem mais das ações individuais, mas dos recursos selecionados como paradigma. Os precedentes vinculantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) visam dar segurança jurídica, previsibilidade nas decisões judiciais e tratamento igualitário. Mas será que, na prática, essa metodologia vem garantindo aos contribuintes celeridade e segurança?

Para discutir o tema, o Conselho de Assuntos Tributários, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), recebeu, em reunião virtual realizada na última quarta-feira (22), Halley Henares Neto, especialista em direito tributário e presidente da Associação Brasileira Advocacia Tributária (Abat).

De acordo com dados divulgados pelo STF, a implementação da repercussão geral é responsável pela redução de quase um terço dos recursos extraordinários.

Apesar da almejada redução do contencioso no País, Márcio Olívio Fernandes da Costa, presidente do Conselho, apontou que o tempo para discussão sobre cada caso não pode se perder. “É fundamental que seja assegurado o debate dos temas que impactam a todos”, afirmou.

Ausência de critérios uniformes

Segundo Henares Neto, as constantes mudanças de interpretações e demora no julgamento de ações no STF causam insegurança jurídica e abrem precedentes para que contribuintes recorram das decisões.

“Os novos efeitos da coisa julgada a partir das decisões do STF nos temas 881 e 885 de Repercussão Geral tem causado insegurança e ainda estão pendentes de análise de Embargos de Declaração sobre os efeitos retroativos x eficácia declaratória pretérita no caso da ADI 15 (CSSL). O impacto disso poderá ser a abertura de precedentes para propositura de ações rescisórias pela PGFN, visando a desconstituição de outras decisões proferidas em processos já transitados em julgado”, afirmou.

Outro ponto de atenção destacado por Henares Neto é acerca da modulação de efeitos por parte do STF. Segundo o tributarista, existe dificuldade de critérios uniformes e morosidade para proferir a modulação. “Um exemplo é o Tema 985 de Repercussão Geral no STF, referente ao terço constitucional de férias, onde houve mudança de orientação entre STJ e STF. Além disso, existiu a necessidade de prazo para modulação de efeitos e pedido de suspensão nacional dos processos nas instâncias inferiores. Isso gera enorme instabilidade, abalo na confiança do contribuinte e falta de previsibilidade para as partes do processo”, ponderou.

Avanço da tecnologia e Inteligência Artificial

O tributarista também abordou o crescente uso da Inteligência Artificial (IA) e da automação nos tribunais para acolher processos dos contribuintes. O resultado disso é o aumento exponencial do número de processos recebidos e resolvidos, ano após ano.

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, o Poder Judiciário concluiu 26,9 milhões de processos em 2021, uma expansão de 11,1% no número de casos solucionados em relação a 2020. No mesmo período registrou-se o ingresso de 27,7 milhões de novas ações – um crescimento de 10,4%. Desses processos, 97,2% chegaram à Justiça já em formato eletrônico.

“Estamos vivendo um paradigma entre a velocidade e a qualidade. É necessária a digitalização dos processos, mas é preciso olhar para a essência, protegendo o devido processo legal e o direito da ampla defesa”, ponderou Henares Neto.

* Halley Henares Neto, especialista em direito tributário, presidente da Associação Brasileira Advocacia Tributária (Abat) e membro do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP

FecomercioSP, 24/11/2023

Categoria: Geral


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