O futuro chegou e não temos carros voadores, cidades suspensas nem teletransporte. Mas também não estamos tão mal assim. Para discutir as alternativas possíveis e as que devem surgir nas próximas décadas, o Estadão realizou no último dia 5 o 1º Fórum de Mobilidade Urbana, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. Especialistas, representantes de empresas de aplicativos de trânsito e transporte e membros do poder público apresentaram suas visões sobre o problema e debateram soluções. Diretamente de Taipé, em Taiwan, o pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) Phil Tinn apresentou a criação de seu grupo de trabalho, um pequeno veículo autônomo movido por aplicativo. O modelo, já testado nas ruas dos Estados Unidos, é comandado por um computador de bordo e solicitado por aplicativo.
O painel Parcerias para Transformar os Transportes tratou da importância de coordenar ações de empresas, cidadãos e governos locais. Participaram dele o secretário municipal de Mobilidade e Transporte de São Paulo, Sergio Avelleda, a ex-prefeita de Santiago, no Chile, Carolina Tohá, o diretor de Prática Global de Transporte do Banco Mundial Franz Drees-Gross e o vice-presidente da chinesa Didi Chuxing, maior empresa de transporte por aplicativo do mundo, Gu Tao.
Carolina e Avelleda falaram sobre o trânsito como reflexo do espraiamento urbano. Foram citados casos de sucesso de parcerias público-privadas, como a Linha 4 do Metrô, lembrada por Drees-Gross, e tendências para o transporte público, como a van de sete lugares oferecida pela Didi. Para encerrar o evento, o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, destacou o peso do aumento da frota, estimulada pelos incentivos oferecidos pelo próprio governo federal, e a importância dos planos de mobilidade municipais.
Investimentos privados são decisivos
O consenso entre os participantes do Fórum Estadão sobre mobilidade urbana foi que, para promover as mudanças necessárias e inevitáveis por causa do avanço da tecnologia, será necessário mais do que a vontade do poder público. As parcerias com o setor privado são cruciais. Tóquio, no Japão, onde o metrô foi privatizado em 1985, e Madri, na Espanha, onde há um consórcio operando os transportes municipais, foram lembrados como PPPs de sucesso.
O futuro sobre três rodas e movido a pedais
Um veículo de três rodas circula sem motorista pelas ruas de uma metrópole bastante densa e movimentada. Em seguida, estaciona próximo a um passageiro, que o acionou por meio de seu smartphone, e o leva até o seu destino. Ao chegar, o homem abandona o transporte no meio fio, o qual automaticamente segue viagem para atender à solicitação de outra pessoa.
Embora pareça ter sido tirada de um filme futurista, a cena já é realidade para uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em Cambridge, nos Estados Unidos. Foi o que mostrou Phil Tinn, pesquisador do City Science Group, do MIT Media Lab, no 1º Fórum de Mobilidade Urbana, promovido pelo Estadão. “Nosso laboratório no MIT se propõe a encontrar estratégias para redesenhar os sistemas de mobilidade que conectam os locais onde as pessoas vivem e trabalham, deixando-os preparados para enfrentar os desafios dos próximos anos”, explicou Tinn.
Um Brasil cada vez mais motorizado
Nem mesmo a crise econômica dos últimos anos foi capaz de frear a quantidade de carros circulando pelas já congestionadas ruas do país. Um estudo realizado neste ano pelo Observatório das Metrópoles, ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, mostra que a frota brasileira já ultrapassava 61 milhões de veículos. O total representa quase duas vezes e meia a quantidade existente em 2001.
Esses automóveis estão concentrados nas maiores cidades e regiões metropolitanas, mas, mesmo nos municípios menores, a presença dos carros cresce em ritmo elevado. A taxa de motorização brasileira, proporção de automóveis a cada 100 habitantes, passou de 14,4 em 2001 para 29,7 no ano passado.
Foco dos investimentos viários, a região Sudeste concentra a maior frota do país. Não por coincidência, a região detém as maiores cidades brasileiras. Mais da metade da frota nacional (54,2%) circula nesta área.
Fonte: O Estado de S. Paulo - 11/12/2017