Por Jorge Hori* - Lideranças políticas reclamam que falta um norte para o Brasil, um rumo definido a ser trilhado pela sua sociedade, com interação com a macroeconomia.
Na realidade esse caminho já existe há muito tempo, caracterizado pela industrialização a cargo do setor privado, voltada para o mercado interno, sob auspícios do Estado.
As empresas industriais privadas se desenvolveram com proteções e benefícios estatais e se tornaram dependentes do Estado.
Quando o Estado reduziu ou retirou as proteções, a indústria, como um todo, entrou em processo de estagnação, perdendo a condição de motor do crescimento econômico, deixando o Brasil com a sensação de que estava sem rumo. Na verdade o rumo adotado deixou a economia do país parada e até em regressão. O principal efeito foi sobre o consumo interno, que entrou em estagnação.
Os serviços passaram a dominar a economia, com a maior participação dentro do PIB, mas com a dinâmica dependente da demanda interna. Efetivamente o rumo trilhado era baseado inteiramente na dinâmica do mercado interno, de forma interativa com a produção, e foi esse que perdeu força.
Num momento os governos tentaram frear essa demanda, em função dos impactos inflacionários. No momento seguinte, controlada a inflação, os governos buscaram estimular essa mesma demanda através de subsídios, crédito e auxílios diretos à população mais pobre, comprometendo sucessivamente os encargos orçamentários, gerando deficits e endividamento público. Diante dos riscos de insolvência financeira do Estado, gerando atrasos de pagamentos a empregados e fornecedores, o governo de então promoveu a contenção dos gastos estatais, piorando a evolução da demanda interna. O resultado foi uma piora na economia, com regressão no crescimento.
A insatisfação da sociedade com essas circunstâncias levou à eleição de um candidato com proposta de mudar o método, sem considerar ou discutir a mudança do rumo estrutural, isto é, uma economia voltada para o mercado interno.
Essa mudança de método seria substituir o "protocolo" do Estado promotor do desenvolvimento, com o sucessivo aumento da carga tributária, pelo da economia liberal, com redução do tamanho do Estado, mediante privatizações, gestão responsável das contas públicas e maior abertura do mercado interno ao fornecimento externo, supostamente, para aumentar a concorrência e a competitividade.
A proposta não foi mudar o rumo, mas o motor do veículo, substituindo o do estatal pelo da economia liberal.
O empresariado saudou essa proposta e deu apoio à consolidação da eleição de Bolsonaro no segundo turno.
Confiou na proposta de uma economia liberal plena, associando-se a Paulo Guedes, um radical defensor do liberalismo na economia, que percebeu a oportunidade diferenciada de estabelecer o Brasil como uma economia liberal.
Para sair da estagnação ou quase regressão, o Brasil definiu um norte: o mesmo desenvolvimento baseado no seu imenso mercado interno, com motor novo: o do liberalismo, substituindo o desgastado e antigo motor da estatização.
Com a expectativa de pleno apoio do Presidente, que lhe deu carta branca para formar a sua equipe, Paulo Guedes traçou o que lhe parecia o melhor caminho: a linha reta, com o apoio do empresariado. Faria as reformas básicas, principalmente a previdenciária, a administrativa e a tributária, para garantir a sanidade das contas públicas e uma ampla privatização, reduzindo o tamanho do Estado, contando com a substituição das empresas estatais pelas empresas privadas, com recursos da poupança internacional.
Na prática, ele e sua equipe perceberam que essa rota é acidentada, cheia de obstáculos políticos, tendo como o principal deles o Presidente da República, quando este cede às pressões corporativas dos servidores públicos e de outras corporações ou aos arroubos populistas, visando a sua reeleição em 2022.
Bolsonaro é, volta e meia, tentado a seguir o mesmo caminho trilhado pelo petismo, de gastar demais, para atender às diversas pressões políticas, ampliando a ação estatal, agravada pela corrupção. Bolsonaro eliminou este nefasto adicional, mas segue uma tendência de aumentar os gastos públicos, tendo como prioridade o que é relevante para a sua reeleição em 2022.
A reação empresarial e dos investidores é o que resta a Paulo Guedes, para conter a fúria gastadora e mostrar ao Presidente que sem isso, ou seja, o controle das contas públicas, a sua reeleição estará comprometida.
Lideranças empresariais e investidoras, nacionais e internacionais, se mobilizaram para mudanças no posicionamento governamental, em relação ao meio ambiente, em função dos impactos sobre a economia e finanças nacionais, mas ainda não se mobilizaram expressamente a favor da contenção dos gastos públicos, pilar fundamental do liberalismo econômico.
A condição básica para manter o rumo em direção a uma economia liberal está na contraposição do setor empresarial e investidor privado, contestando abertamente as pressões políticas e condicionando a continuidade do seu apoio ao Presidente à manutenção do rumo.
O Brasil não perdeu o rumo, mas diante dos obstáculos é obrigado a buscar atalhos que atrasam a retomada do crescimento econômico. Para a sua aceleração é preciso que o Presidente ajude a remover os obstáculos e não que fique colocando pedras no caminho.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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