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O secretário de Transportes e presidente da CET e da SPTrans, Alexandre de Moraes, e seus planos para frear os congestionamentos na cidade de São Paulo são tema de reportagem da Veja São Paulo ("Vejinha"). "Melhorar o trânsito exige paciência e estratégia de enxadrista", diz ele, que costuma jogar com amigos.
A seguir, trechos da entrevista em que responde a perguntas de especialistas em transporte, taxistas, motoboys, caminhoneiros e outros paulistanos que amargam horas nos congestionamentos.
Francisco Moreno Neto, engenheiro de tráfego - O senhor vai ampliar a área ou o horário do rodízio?
Moraes - Não há nenhuma intenção de alterar o rodízio: nem a área que ele abrange nem o número de dias de restrição. Estudos mostram que esses tipos de alteração trariam uma melhora de, no máximo, 3% nas lentidões. É pouco.

Luís Antônio Queiroz, presidente do Sindicato dos Operadores do Sistema Viário (Sindiviários) - Será implantado o pedágio urbano?
Moraes - Sou contra, porque não temos uma boa rede de metrô para oferecer à população. Você vai penalizar as classes menos favorecidas. Se jogar o preço da tarifa lá em cima, só a classe A circulará pelo Centro. Vamos, sim, direcionar os investimentos para o transporte público.

Luiz Célio Bottura, engenheiro e consultor de transportes - Além de antiga e pouco rígida, a lei de polos geradores de tráfego (para prédios comerciais com mais de 200 vagas na garagem e residenciais com mais de 500) parece ter sido feita para atender aos interesses das construtoras. Como pretende resolver essa questão?
Moraes - A lei realmente deixa a desejar. No ano retrasado, encaminhamos à Câmara Municipal um projeto substitutivo para melhorá-la, mas ele foi retirado da pauta. Agora pretendemos discutir a questão no Plano Diretor da cidade. Enquanto ele não é aprovado, vamos exigir mais obras (bancadas e executadas pelos empreendedores) para diminuir os estragos que esses novos edifícios possam causar. Ou seja, será mais difícil obter a certidão da CET, que garante o alvará para a construção. Criei um grupo que fiscalizará o cumprimento dessas obras pedidas. A equipe vai observar se elas começam logo no início da construção do estabelecimento. Caso contrário, avisaremos a subprefeitura e a Secretaria Municipal de Habitação. Em geral, o empresário não faz o que a CET pede e depois consegue uma liminar para abrir o local sem as nossas exigências. Vamos inverter essa lógica.

Horácio Figueira, consultor de engenharia de tráfego e transportes - Por que infrações que causam vítimas, como dirigir falando ao celular ou ultrapassar o farol vermelho, não costumam ser tão bem fiscalizadas como o rodízio ou o uso da Zona Azul?
Moraes - São, sim, autuadas da mesma maneira. A única diferença é que no caso do rodízio, por exemplo, contamos com a eficiência da fiscalização eletrônica por radar. Já as outras têm de ser feitas por marronzinhos e, com isso, perde-se um pouco a eficácia. De qualquer forma, estamos incluindo três novas infrações nas cadernetas de multas. Todas dizem respeito a veículos que avançam na faixa de pedestres. A partir do dia 2, os marronzinhos estão autorizados a multar quem as comete.

Julyver Modesto de Araujo, presidente da Associação Brasileira de Profissionais do Trânsito (Abptran) - Muitas vezes o marronzinho deve escolher entre ajudar na fluidez do tráfego e multar. Qual é a prioridade dos agentes nessas situações?
Moraes - Vamos priorizar a mobilidade, ainda mais nos momentos complicados de rush. Nessas horas, a fluidez é mais importante. É melhor o marronzinho coordenar o trânsito do que ficar parado multando. Para isso, há a ajuda da fiscalização eletrônica.

Jaime Waisman, engenheiro de transporte e professor da USP - Que medidas a secretaria pretende tomar para acelerar a remoção de caminhões tombados e evitar os congestionamentos?
Moraes - Hoje, quem remove os veículos são as empresas de guindaste contratadas pelas subprefeituras. Para agilizar esse processo (que demora em média meia hora), começamos a cadastrá-las. A ideia é chamá-las diretamente, sem precisar acionar as subprefeituras. Além disso, vamos comprar três retroescavadeiras para retirar rapidamente a carga espalhada nas vias. Também estamos estudando restringir um pouco mais a circulação de alguns tipos de caminhão nas duas marginais.

Philipe Figueiredo, vendedor de carros que passa quatro horas por dia preso no trânsito - Quando a CET terá mais guinchos para atender rapidamente os carros que quebram nas ruas?
Moraes - Até meados do ano passado, fazíamos 700 remoções por mês e tínhamos dez veículos próprios. Agora, contratamos mais 48 guinchos e realizamos mensalmente 3 500 remoções.

Tatiane dos Reis Silva, analista de logística. Moradora da Zona Leste, ela atravessa a cidade para trabalhar na Zona Sul - Há planos de aumentar o número de faixas reversíveis na Radial Leste?
Moraes - Na Radial, a prioridade será para o ônibus, que não pode mais ficar parado no trânsito. Estamos estudando a criação de uma faixa reversível para os coletivos nessa avenida.
Natalício Bezerra da Silva, presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo - Há algum plano para incentivar o paulistano a optar pelo táxi como alternativa ao carro?
Moraes - No ano passado, tirei a tarifa adicional do táxi que vai até Guarulhos, cobrada em viagens para fora de São Paulo. Isso barateou as corridas ao Aeroporto de Cumbica. Outra ideia é oferecer descontos para determinados trajetos, incentivando a pessoa a deixar o carro em casa. Para corridas longas, o motorista deveria negociar com o passageiro, o que aumentaria a concorrência e tornaria o serviço mais atraente economicamente. Hoje isso não acontece.

Jaime Waisman, engenheiro de transporte e professor da USP - O que farão para coibir a invasão de automóveis nos corredores e o mau uso que os táxis fazem dessas faixas?
Moraes - Vamos começar a multar o taxista que estiver no corredor e sair dele. O motorista não vai mais poder ficar costurando, como faz hoje, quando encontra uma fila de ônibus pela frente. Isso provoca congestionamento. Estamos preparando o novo cartão de multas com essa infração, que começará a ser fiscalizada a partir de meados de fevereiro. Agora, costurou, será multado.

Aldemir Martins de Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São Paulo (Sindimoto) - A criação das chamadas faixas cidadãs para motos não teve resultado algum. Por que não se investe em educação para o trânsito?
Moraes - Nós investimos em educação, principalmente para motofretistas. No ano passado, quase 15. 000 deles fizeram o curso de segurança no trânsito. O número é pequeno em relação ao total estimado de 120. 000 motoboys, mas já se trata de um avanço. Também criamos uma comissão permanente para quem trabalha de moto. Agora, eles terão de colocar placa vermelha no veículo. Isso vai ajudar o marronzinho a saber quem é motociclista e quem está trabalhando de moto. Ou seja, será possível fiscalizar de forma diferenciada.

Domingos Guilherme Napoli, coordenador de comunicação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência de São Paulo (Samu) - De que forma a CET pode ajudar o Samu e outros serviços de resgate a atender mais rapidamente os acidentes?
Moraes - Acidentes com vítima causam muita lentidão. Quando a pessoa morre, demora para a pista ser liberada. Tem de esperar a perícia chegar, e às vezes isso para todo o trânsito. O impacto de um acidente com morte é o mesmo de um veículo quebrado. Quinze minutos de faixa obstruída provocam 3 km de congestionamento. Minha meta é acelerar todo o atendimento a essas ocorrências. Vamos colocar as motos da CET como batedores, abrindo caminho para os carros do IML, guinchos e veículos da perícia e da Polícia Científica.
Fonte: Revista Veja São Paulo, 4 de fevereiro de 2009

Categoria: Geral


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