Começou fevereiro, e, com ele, uma parte das aulas e a volta dos grandes congestionamentos na cidade de São Paulo.
A impressão é de que haverá mais carros nas ruas, em função da produção e licenciamento de carros novos. Haverá sim, mas a interpretação é equivocada. Essa frota adicional já existia em janeiro e nem por isso houve congestionamentos monstros. Houve até um dia, seguinte a uma grande chuva, em que as ruas estavam vazias.
O que provoca os congestionamentos é o número de viagens motorizadas.
O fato gerador - aliás, um termo mais adequado para o entendimento de um jurista como secretário de Transportes - é a viagem. Não a frota. Esta pode ser imensa, mas ficar na garagem da casa. As frotas em cidades mais desenvolvidas são maiores do que as de São Paulo, mas saem para as ruas em proporções menores.
O que acontece com o retorno das férias é que aumenta o número de viagens. São as viagens de casa para a escola e o seu retorno.
Para os leigos o termo viagem pode parecer estranho, ainda mais para os que voltaram de férias, de longas viagens. Mas, em transportes, viagem é uma das unidades para medir os deslocamentos.
Um dado difícil de avaliar, mas que pode fazer grande diferença, é se os pais, em função dos sofrimentos em 2008, resolveram mudar os seus hábitos e matricularam os filhos numa escola mais próxima de casa (ou até se mudaram para mais perto das escolas) de forma a poder acessá-la a pé.
A redução dos congestionamentos só tem uma solução estrutural: a redução das viagens motorizadas.
Com o crescimento da população - ainda - e das atividades urbanas, o crescimento das viagens é inevitável.
Dois fatores podem fazer com que se reduza o número global e geral de viagens: a tecnologia da informação que permita às pessoas realizarem atividades urbanas sem fazer viagens externas e a crise econômica.
Há um crescimento das atividades urbanas que podem ser realizadas sem sair de casa, principalmente as operações bancárias.
Vale também para o correio eletrônico, que poderia minimizar muito um dos maiores problemas do trânsito de São Paulo: o motoboy. Que é um importante prestador de serviços, mas cuja quantidade já se tornou um problema.
Compra eletrônica é outra atividade que pode reduzir o número de viagens de pessoas.
A crise econômica poderá reduzir o volume de viagens motorizadas. Para alguns será a forma de economizar na gasolina. Para outros, reduzir as viagens para compras. Os indícios atuais são de que não haverá importantes mudanças.
É possível que a crise ajude a ampliar o maior uso da internet, reduzindo as viagens físicas.
A matéria da Vejinha com o secretário Municipal de Transportes mostra que ele não tem nenhuma estratégia para reduzir o número de viagens. Provavelmente não a vê como atribuição da Secretaria, preso aos paradigmas de que lhe cabe cuidar do trânsito e do transporte, não das viagens.
Só que trânsito e transportes são consequências das viagens. Sem viagens não há trânsito. Sem viagens não há necessidade de transporte.
Portanto, continuamos na mesma.
Os congestionamentos voltarão e os estacionamentos continuarão cheios.
*Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica do Sindepark. Com mais de 40 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.