O lançamento da novíssima nota de R$ 200, que terá como estampa o tradicional lobo-guará brasileiro, dividiu opiniões nas redes sociais. Houve quem fizesse memes, quem temesse a volta da hiperinflação e até quem notasse um estranho paralelo com a animação "Os Simpsons".
Mas, afinal, por que o Banco Central decidiu criar uma nova cédula? E por que agora, bem no meio da pandemia de coronavírus e da crise econômica acarretada por ela? Quais são os impactos da chegada de uma nova nota ao bolso do consumidor comum?
De acordo com o próprio Banco Central, o objetivo da nova cédula é atender uma demanda do consumidor brasileiro. Com a pandemia e o temor em relação ao futuro da economia, a população tem praticado o chamado entesouramento – estamos guardando mais dinheiro em espécie em casa.
O hábito de guardar o dinheiro "debaixo do colchão" é comum em momentos de crise e, segundo o BC, tem se tornado mais frequente no mundo inteiro com o avanço da covid-19. Além disso, a emissão do auxílio emergencial de R$ 600 também tem pressionado agências e caixas a emitirem mais dinheiro em papel.
Em março, antes do auge da pandemia, a quantidade de dinheiro vivo nas mãos da população era equivalente a aproximadamente R$ 216 bilhões, segundo o Banco Central. Depois de março, esse montante começou a subir rapidamente e hoje está em R$ 277 bilhões.
A nova nota deverá entrar em circulação a partir do final de agosto e a previsão é que sejam impressas 450 milhões de cédulas de R$ 200 ainda este ano, o equivalente a R$ 90 bilhões. Mas é importante lembrar que este valor não será um acréscimo, e sim uma substituição ao dinheiro já em circulação.
"Esses R$ 90 bilhões já entraram em circulação. As notas de maior circulação hoje no Brasil são as de R$ 50 e R$ 20. Com uma nota de R$ 200, você substitui várias notas menores. Facilita para o dispensador do caixa eletrônico e para os bancos”, explica Wilhelm Milward Meiners, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Em outras palavras, é como se o Banco Central passasse agora a imprimir uma só nota de R$ 200 em vez de 10 notas de R$ 20, por exemplo. A nova cédula reduz o custo de impressão da Casa da Moeda sem provocar qualquer prejuízo à economia brasileira.
"O que a gente pensa de uma maneira equivocada é que todo dinheiro que circula na economia é moeda manual. E não é. Se a gente pegar o total de dinheiro que circula na economia para uso imediato, sem ter que pedir licença, estamos falando de R$ 530 bilhões. Em títulos privados, públicos, fundos monetários e poupança, são R$ 7,8 trilhões. Não seriam R$ 90 bilhões que iriam provocar inflação", acrescenta Meiners.
Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, divulgado dia 27, o mercado financeiro espera que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 1,67% neste ano. Essa perspectiva não muda com a entrada da nota de R$ 200 no mercado porque o valor do dinheiro em circulação, em si, não vai mudar. Só o papel é que será substituído.
Se a criação da nota de R$ 200 é uma demanda do consumidor brasileiro em meio à pandemia – e levando em conta a crescente digitalização de transações financeiras, que podem em breve ganhar até um novo imposto –, é possível imaginar que essa nova nota saia de circulação no futuro, assim como a finada cédula de R$ 1?
De acordo com Meiners, é pouco provável que a nota de R$ 200 saia de circulação mesmo muito tempo depois da pandemia. "A gente poderia lançar uma cédula de R$ 500 hoje que não seria nenhum absurdo. Porque R$ 500 hoje equivalem a pouco menos do que a nota de R$ 100 valia quando foi lançada em 1994."
É mais provável, segundo o economista, que sejam descontinuadas notas de menor valor, como a de R$ 2, que custa muito mais para ser produzida, em favor de um moeda metalizada como a de R$ 1. Mas o dinheiro em papel ainda vai continuar existindo por muito tempo. "Sempre vai existir moeda física, independentemente do valor que ela carregue."
Fonte: Yahoo, 30/07/2020
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